DO SOCIALISMO DEMOCRÁTICO
É universalmente aceite o papel que o chamado socialismo democrático, sob a alta direcção de Mário Soares, teve na erradicação da ameaça comunista em Portugal.
Posto isto, perguntar-se-á: o socialismo democrático é mais democrático ou mais socialista, ou mais uma coisa ou outra consoante as conveniências?
Nos idos de 82, quando a AD tomou a dianteira na revisão constitucional, foi possível acabar com o Conselho da Revolução, que muito incomodava Mário Soares, e, entre outras ligeiras alterações, dar algumas aberturas à iniciativa privada e “civilizar” o sistema. Tocar nas sacrossantas nacionalizações ou noutras estúpido-social-comunistas disposições, nem pensar! Dizia Mário Soares à altura que não tinha “abertura” para tal por parte da ala esquerda do PS (Sampaio & Cª). Sabe-se lá se assim era.
Passaram sete anos (sete anos!) para que a estúpido-social-comunista norma da irreversibilidade das nacionalizações fosse abolida. Os resultados estão à vista. Alguns grupos reconstruíram-se, mas os seus reconstrutores tomaram algumas legítimas cautelas. O BES, por exemplo, é detido por uma companhia… luxemburguesa. Isto de patriotismo, ou funciona em dois sentidos, ou torna-se mais suave. Nunca mais houve dinheiro “a sério” em Portugal. O investimento deixou de ser fruto da aplicação de resultados com apoio bancário, para se tornar em aplicação de apoio bancário, com meios próprios… às vezes.
Assim se malbaratou a “pesada herança”, à conta moral e política do socialismo democrático que, neste aspecto, se diferencia nitidamente da social-democracia europeia em geral e nórdica em particular.
Agora que os sucessores da AD propõem, com extrema timidez, algumas alterações constitucionais indispensáveis à retoma de alguma confiança no regime, eis que o PS regressa aos seus fantasmas de estimação.
O socretinismo, acusado de virar à direita, engrossou o Estado como só um socialista ferrenho o pode fazer. A segurança social passou a ser, ou continuou, privilégio do Estado. Tudo o que contribua para a viabilizar é considerado, pelo menos, “capitalismo de casino”, ou essa coisa que se erigiu em mal de todos os males e a que o socialismo resolveu atribuir o epíteto de “neo-liberalismo”, mesmo que ninguém, a começar pelos socialistas, saiba o que isso é ou como se exprime. O emprego passou a ser pasto dos slogans da extrema-esquerda, vigorosamente apoiados pelo “socialismo democrático” e alimentados por um sindicalismo mentecapto, grosseiro e troglodita.
O “pai” Soares não se cansa de glorificar a Constituição e o seu socialismo obrigatório, como se não soubesse ou não lhe conviesse saber o que é a democracia.
Por outras palavras, o socialismo democrático, na sua versão nacional, continua a ser o primeiro sustentáculo do insustentável, o defensor de eleição do imobilismo, o paladino do Estado monstruoso que o senhor Pinto de Sousa nos deixou, o entrave número um a uma mudança que ofereça uma vida melhor aos portugueses.
Nem o mais leve sinal de o ter compreendido é o discurso vazio dos candidatos à chefia do PS. Um sempre foi, e continua a ser, o mais caninamente fiel socretinista do partido. Outro, que de outra maneira parece pensar (ainda que, com laivos de verdade, se possa dizer que não pensa nem sabe o que isso é), é coisa pior ainda que o socretinismo.
A extrema-esquerda e o sindicalismo fundamentalista (que é o que temos) podem estar descansados.
Enquanto o PS for o que sempre tem sido, as “conquistas de Abril” continuarão a dar os seus repugnantes frutos.
16.7.11
António Borges de Carvalho