O DOSSIER BAIRRÃO
Ninguém sabe exactamente o que terá passado pela cabeça do novo ministro das polícias quando resolveu contratar o Bairrão para secretário de Estado. Menos ainda se conhece porque terá o Bairrão sido desconvidado à última da hora.
Anda por aí uma campanha – gostava de saber com que maquiavélicos fins – de propaganda do Bairrão. O homem aparece na TV a dizer de sua justiça, de manhã à tarde e à noite. Diz-se que o governo, ou alguém por ele, mandou os serviços secretos investigar as suas actividades privadas. O governo diz que é mentira. O Bairrão quer que o governo esclareça. Se o governo disse que é mentira, não tem nada a esclarecer. Mas o Bairrão insiste. Parece que, se o governo não consultou os serviços secretos, devia ter consultado. Mais que não fosse para dar mais sal ao assunto, mais publicidade ao Bairrão e mais publicidade aos canais. Utilíssimo.
Insondáveis mistérios! Quem quer fazer mal ao Bairrão? Porquê? Quem quer proteger o Bairrão? Porquê? Que mal fez o Bairrão? A quem? Que bem fez o Bairrão? A quem? Quem é o Bairrão?
Um dos mais terríveis problemas da Nação, segundo os media, é o do Bairrão. O povo está interessado? Não está? Então vamos interessá-lo. Vamos pô-lo a par do ingente problema do Bairrão. Vamos a isto, até se descobrir alguma coisa interessante, faça ela mal, ou bem – o bem interessa menos - a quem fizer. Que diabo, é preciso informar!
O IRRITADO atreve-se a pôr-se na pele do Primeiro-Ministro. Calcule-se que o IRRITADO, duas horas antes de tomar posse, era informado acerca do papel preponderante que um dos secretários de Estado convidados tinha tido um papel relevante na história do domínio da TVI pelas forças socretinas, a favor delas, claro.
Que faria o IRRITADO? Pegava no télélé e dizia ao Macedo: é pá, tira-me daí esse gajo! E pronto.
Porque será que ninguém está interessado nesta mais que lógica hipótese?
Um dia, alguém fará o historial dos mistérios da III República. Nele terá lugar, sem dúvida, o tenebroso quão importante mistério do Bairrão.
17.7.11
António Borges de Carvalho