DESAVENÇAS CONJUGAIS
Primeira página, manchete, cinco colunas vezes duas linhas garrafais. Quatro linhas de lead.
Coisa digna do estalar de uma guerra entre a França e Turquia, de um tsunami nos Açores, de cinco mil pessoas mortas por afogamento porque os chineses se puseram a fazer xixi todos ao mesmo tempo.
Nada disso. O jornal do amigo Oliveira, edição Sul, vinha anunciar ao orbe uma rixa doméstica, coisa que seria suposto e é costume aparecer a folhas trinta e nove.
Mais ou menos assim: o Quiquinhas foi queixar-se de ter sido selvaticamente agredido pelo marido, um larilas do PSD que até já foi deputado e com quem o Quiquinhas tinha “casado” há um mês. Esta, a notícia mais importante do dia, para o jornal do amigo Oliveira e do impossível Marcelino.
Bem escondido na página quarenta e cinco, ou coisa que o valha, um psicólogo qualquer informava as pessoas que a violência doméstica entre pessoas do género (que género?) era coisa vulgar e estava a aumentar todos os dias.
Ora bem. Que se noticie as baldrocas entre “casais”, enfim, vá que não vá. Que se dê a notícia com mais destaque que as que se referem às costumeiras e caseiras lambadas que há por aí aos pontapés, à pala de se tratar de um ex-deputado que até é o director dos serviços de educação – que educação! – da Freguesia de Alcântara, ainda se compreenderia.
Mas que um diário, tido por sério, faça disso manchete, é uma vergonha muito maior que as desavenças entre o “marido” e… a “mulher”. Em manchete, valha-nos São Quitério!
Assim vai a “informação” na “piolhoeira”, ou a “informação” piolhosa!
António Borges de Carvalho