AO SERVIÇO DA PÁTRIA
Titulando uma solene fotografia do nobre hemiciclo onde os representantes do povo, distintos pais da Pátria, discutem o nosso (miserável) futuro, li ontem esta frase:
Deputados vão avaliar redução dos gramas dos pacotes de açúcar.
Não haverá, creio, ninguém que possa ficar indiferente a tão importante iniciativa, ou que se não curve de admiração perante a forma como a sede da democracia se propõe usar o seu precioso tempo.
Sugere-se que, à imagem desta e de outras formas de se tornar útil - como aquela da gramagem do sal no pão - a veneranda casa discuta, com filosófica profundidade e alto sentido do dever e do serviço público, o número máximo de folhas de papel higiénico em cada rolo, o peso de canela por pastel de Belém ou o número de lambadas a partir do qual se deve punir a violência doméstica nos casais gay.
No caso vertente, sugere-se que a ASAE mande fechar imediatamente as lojas Nespresso. Elas vendem, sem a devida autorização legislativa, pacotinhos de açúcar com menos produto que os demais, e muito mais caros. Se é preciso uma Lei, eventualmente sujeita a maioria qualificada, para mudar a gramagem dos pacotes, com que direito uma multinacional estrangeira, representante do mais negro capitalismo, se atreve a determinar o peso da dose sem dar cavaco ao poder legislativo?
À atenção de Sua Excelência o Presidente da República, do Procurador-Geral, do Presidente do Supremo, do camarada Jerónimo e do senhor Alfredo da Pastelaria Mutamba.
12.8.11
António Borges de Carvalho