DOS BEIJINHOS DA DONA ÂNGELA
Segundo o Doutor Cavaco, é estranha a posição da dona Ângela e do senhor Nicolau quando propõem a inscrição de limites ao endividamento nas constituições dos membros da União Europeia.
Segundo o IRRITADO, é ainda mais estranho que os partidos da coligação, tidos por próximos do Doutor Cavaco, sejam a favor da coisa.
Antes de mais, a atitude revela um entendimento perverso do que é a União. Há 27 constituições e 27 países. A competência para alterar as primeiras é exclusivo das autoridades dos segundos, de acordo com as regras de cada um.
Segundo, revela outra coisa, ainda mais perversa. Que há dois países que, por ser grandes e, alegadamente, mais ricos, se tomam por bons para, de forma unilateral, ditar regras. A opinião dos dois poderia, legitimamente, ser comunicada aos demais em sede própria, quer dizer no Conselho. Compreende-se que o parzinho, como qualquer outro, ou outros, se encontrem para concertar ideias. A fazê-lo, porém, que seja informalmente, ou pelas vias diplomáticas competentes, não através de um chinfrim mediático que outra coisa não pode significar, na cabeça dos europeus, que tendência hegemónica ou de domínio. Neste aspecto, a proposta (imposição?), mais do que estranha, é pouco inteligente.
Ainda menos inteligente é a velada ameaça – ou alteram as constituições, ou… - , sabido que é o tempo que estas coisas, mesmo que aceites pelas maiorias constitucionais de cada um, levam anos. Ora os problemas já cá estão, não levam anos, nem dias, sequer minutos.
Por outro lado, a estranha proposta não resolve problema nenhum. Alterar as constituições para chegar à conclusão que há dívidas inconstitucionais em face das novas regras? E depois? Depois, tudo na mesma.
O IRRITADO não conhece soluções para o estado a que as coisas chegaram. Até é capaz de achar que não há solução. Mas não pode aceitar que se tenha ideias malucas, que nada resolvem nem resolverão, e que são apresentadas aos europeus como genial solução.
Podemos fazer uma lei a determinar que é proibido cair na rua, a fim de não estragar a calçada. Não é preciso demonstrar que tal lei jamais poderá ser cumprida, não é?
Acresce que há exemplos de não cumprimento das regras do défice (ínsitas no Pacto de Estabilidade), por parte de vários Estados. Ironia do destino, os primeiros a não cumprir tais regras foram a Alemanha e a França!
Por tudo isto, fica-nos a sensação de estar a ser gozados, ou tratados como indigentes mentais.
O PSD e o CDS/PP estão de acordo com o parzinho. Parece que o PS também. Porquê? Vão rever a Constituição para agradar ao parzinho? Com que outro fim?
É evidente que já não somos livres de tomar as decisões que entendermos. Não será um mal, não será um bem. É assim, e pronto. Daí até nos entretermos com ideias que não servem para outra coisa que não seja complicar, vai uma grande distância.
A proposta do parzinho devia ser simplesmente ignorada. Quando muito, ser objecto de uma daquelas declarações em que os governos e os diplomatas são especialistas: nem sim nem não nem antes pelo contrário: vamos estudar atentamente o assunto… que exige profunda reflexão, diálogo, concertação, discussão em sede própria, etc. blablabla, pópópó… Até que a coisa caísse.
Esta ânsia desmedida pelos beijinhos da Merkel não tem o aval do IRRITADO.
22.8.11
António Borges de Carvalho