ESTE PAÍS É ASSIM
Pela primeira vez na história das Repúblicas (primeira, segunda e terceira), o governo decidiu retirar a nomeação dos mais altos cargos da administração pública ao mero critério dos governos.
Antes e depois de o IRRITADO ser IRRITADO, sempre ouviu dizer que, do Afonso Costa ao Salazar, do Caetano ao Soares e a todos os outros, não havia em Portugal uma administração pública que, ao nível das chefias, fosse profissionalizada, que desse continuidade ao funcionamento do Estado apesar das mudanças de governo, que tivesse o mérito, não a confiança política, como primeiro critério de nomeação.
Nesta ordem de ideias, assim que o IRRITADO ouviu dizer que o sistema ia mudar, que tais cargos passavam a ser objecto de concurso e iam deixar de estar “à disposição” dos governos sempre que estes mudavam de cor, julgou que um coro de elogios se ia levantar. Era uma machadada na política de boys, correndo os partidos da maioria o risco de desagradar a muitos dos que, dentro deles, estariam à espera de lugares, era um saneamento, no bom sentido, da administração pública.
Nem pensar! O que se levantou-se foi um coro de protestos.
O mais veemente, calcule-se, vem dessa figura sinistra e bem-falante que, dia sim dia sim, aparece na televisão a bramar tonitruâncias, um tal Picanço, chefe incontestado do sindicato não sei de quê, técnico (doutor!) da função pública. O homem revolta-se contra o direito que, depois da entrada em vigor do novo sistema, vai ficar ainda na mão do governo, de nomear ou não quem lhe é proposto após concurso.
Já se tem ouvido da boca dos mais desvairados “defensores” dos trabalhadores as mais terríveis críticas contra o patronato reaccionário, capitalista e fascisante. Nunca se ouviu, porém, nem o Jerónimo, nem o Louça, sequer o Silva, dizer que um patrão não tem o direito de contratar quem muito bem entenda, entre vários candidatos a um lugar na sua empresa.
Mas o Picanço não é de modas. Quem ganhar, ganhou, mesmo que vários ganhem!
Este país é assim. Preso por ter cão, preso por não ter.
25.8.11
António Borges de Carvalho