PINTURAS
Ao longo de muitos anos, o IRRITADO conheceu um número indeterminado de deficientes sexuais, vulgo maricas. Foi amigo de alguns. De outros ainda é. Houve-os simples conhecidos, de café ou de escola. A maior parte desapareceu, por ter morrido ou por não mais ter sido vistos. O IRRITADO lembra com saudade e tristeza um jovem do seu tempo, com quem muito se deu, que acabou por morrer assassinado à facada por um amante qualquer.
A maior parte deles era vítima de erros da Natureza. Outros eram pervertidos, perversos ou viciados.
Todos primavam pela discrição possível. Não por cinismo, por vergonha, por medo ou por hipocrisia. Achavam, simplesmente, que os outros não tinham nada com a sua vida, ou com essa parte dela, a não ser que o quisessem, como é óbvio. Nesse aspecto, eram como a generalidade das pessoas, guardavam a bom recato a sua vidinha pessoal.
Tudo mudou radicalmente. O IRRITADO não quer, ou não tem capacidade moral nem mental para acompanhar a mudança.
As incapacidades, malformações ou perversidades dessa malta passaram a direitos. A discrição e o recato passaram a exibição e a motivo de apreciação e elogio social.
As leis, de forma sempre “insuficiente”, passaram a conferir-lhes prerrogativas a que não podem ter direito. A “maternidade” de uns ou a “paternidade” de outras, por exemplo. A mudança, melhor dizendo, a total inversão, ou perversão, do instituto do casamento, por exemplo.
Nada lhes chega. Nem as paradas do “orgulho”, nem a exibição pública dos seus handicaps ou vícios, nem a monumental propaganda das suas práticas veiculada por políticos e jornais, nem as livres associações de proselitismo e propaganda dos seus costumes privados(?), nada os satisfaz. Parece que só descansarão quando a sociedade se ajoelhar a seus pés e os considerar melhores que os demais.
Posto isto, veja-se o que aconteceu por estes dias. Um pintor desconhecido fez um acordo com uma seguradora para exibir os seus trabalhos na galeria da companhia.
A certa altura, os responsáveis pela coisa perceberam que a exposição era um hino à chamada homossexualidade. O cartaz do pintor mostrava um falo erecto, negro, mais dois testículos simétricos, encimado por uma torre, ou coisa parecida, em vez de glande. Para além do gosto que o tema da artística inspiração revela, o boneco era, artisticamente, uma desgraça (vem nos jornais, para quem se quiser deleitar).
Depois, os tais responsáveis, verificaram que toda a exposição viria a ser sobre temas equivalentes, acompanhados de slogans tão finos como “legalizem o sexo anal!”, e outros de semelhante jaez.
É evidente que, como não podia deixar de ser, a companhia cancelou a exposição. É verdade que se desculpou de forma canhestra. Não tinha nada que se desculpar. Todos os dias há pintores, ou pretendentes a tal, que batem à porta de bancos, companhias de seguros e coisas do género, a pedir o espaço que os marchands não lhes dão, por evidentes razões, ou por não gostarem da cara dos pretendentes. Ninguém tem nada com isso, nem ninguém liga bóia ao assunto.
Isto, é claro, se o pintor for uma pessoa normal.
Tratando-se, como é o caso, de um dos chamados “activistas gay”, um coro de indignadíssimas vozes se ergueu em uníssono protesto contra o vil acto de “homofobia”, contra a “censura”, contra este atentado à “liberdade da criação artística”.
Os jornais, tão indignados quanto as almas do coro, reproduzem em notícias e artigos de opinião o clamor da moderna moral das modernas alfurjas.
Ninguém se atreverá a pôr a verdade a nu: a companhia de seguros teve vergonha, e pronto. Fez muito bem. Por critérios meramente estéticos, não faria o mesmo?
26.8.11
António Borges de Carvalho