FILOSOFIAS
Há um número relativamente pequeno de senhores que se impõem à nossa sociedade como portadores de profundo pensamento, de altas filosofias e de insigne perfil académico. Aparecem recorrentemente na televisão brindando-nos com as suas “visões de futuro”, as suas “análises sociológicas”, as suas preocupações intelectuais, as suas interpretações filosófico-políticas.
Ele é Sua Excelência o Professor Boaventura Sousa Santos, ele é Sua Excelência o Professor José Gil, ele é outros igualmente célebres e justamente admirados.
Muito bem.
Há um denominador comum à generalidade destes cérebros: o esquerdismo.
Boaventura chega a extremos de zarolhismo que impedem a serena apreciação das suas teorias. Não tem uma opinião que não seja conducente à glorificação da esquerda, ainda que não se perceba bem que esquerda.
Gil – é ele que “provoca” este post - afina mais ou menos pelo mesmo diapasão. Para citar a sua mais recente receita, transcreva-se uma transcrição: Se o povo não se revolta, está a caucionar um sistema global político e económico injusto e explorador…
Aqui temos, de uma penada, uma demonstração de “filosofia global”. O sistema é mau? Então não há outra solução senão a revolta. Não há soluções políticas. O sistema é irreformável. Mau por natureza, não por azar, má gestão ou desvios. Ainda pior por ter proporcionado a globalização, que tirou milhares de milhões de seres humanos da miséria e da fome, com o único prejuízo dos miseráveis autores do “sistema”.
Parta-se tudo. Faça-se como na Revolução Francesa, de gloriosas consequências. Faça-se como na revolução soviética, de admirável futuro. Faça-se como o célebre Adolfo. Ou faça-se como acha o doutor Boaventura, mesmo que ele não explique a que revolta se refere ou o que quer que o povo faça para não “caucionar o sistema global”. É preto ou branco: o povo, ou se revolta, ou “cauciona”, ou é bom ou é mau. Coisa a que usava chamar-se maniqueísmo primário.
É pena que cérebros tidos por tão privilegiados não sejam capazes de perceber o que está mal nem de pensar o que se pode fazer. É que, acima de qualquer bom senso, estão na sempre, nas suas cabeças, os dogmas da esquerda, coisa tanto mais contraproducente quanto mais fundamentalista.
11.9.11
António Borges de Carvalho