Bater no fundo
Em várias intervenções públicas, o ministro da agricultura do governo do senhor Pinto de Sousa (Sócrates), vituperou, em liguagem digna dos doces tempos do PREC, os malandros dos capitalistas, grandes agrários e quejandos que, em manifestação de reprovável ganância, querem receber umas massas que o Estado, calcule-se, em momento de desvario, prometeu pagar-lhes. Não queriam mais nada!? O senhor é peremptório: não se paga muito aos grandes e pouco aos pequenos. Por isso, o melhor é não pagar a ninguém. Este brilhante raciocínio, através do qual se poderia concluir que um tipo com meio hectare e duas vacas deveria receber tanto, ou mais, para haver justiça, que outro com mil hectares e quinhentas vacas, é de tal maneira estrambólico que até o camarada Jerónimo percebeu a coisa e veio, quiçá pela primeira vez na sua vida (e na nossa) defender publicamente que o Estado tem que pagar o que deve, a grandes e a pequenos. Porquê? Porque até o camarada Jerónimo consegue ser menos estalinista, mais honesto e menos estúpido que o ministro da agricultura do senhor Pinto de Sousa (Sócrates).
Batemos no fundo. Quando o próprio Estado se recusa a pagar o que reconhece dever, batemos no fundo. Não menos. O Estado não pede uma moratória, por questões de tesouraria. O Estado, não faseia os pagamentos, alegando conveniências orçamentais. O Estado não revê, ou propõe que se reveja certos critérios, por razões técnicas. O Estado, nas palavras do ministro da agricultura, diz que não paga porque não sustenta malandros cheios de dinheiro, repugnantes latifundiários que se locupletam com as mais valias do suor do povo. Sim senhor, prometi pagar. Sim senhor, devo. Mas, a esta gente, não pago. Não pago, não pago, não pago!!!
Com exemplos destes, como querem que o zé pagode seja sério?
António Borges de Carvalho