UMA DATA HISTÓRICA
Em 24 de Novembro de 1975, atravessei a Serra do Monsanto com altas emoções.
Soldados de canhotas aperradas corriam em todas as direcções como baratas tontas, era não sei quem contra não sei quem, os pára-quedistas contra os comandos, ou os comandos contra os lanceiros, ou o raio que os parta. Revistaram-me, chatearam-me, e lá me safei. Julgo que ninguém ganhou a feroz batalha.
No dia seguinte, foi a bronca final. Os soldados comunistas, representados pelos antigos apoiantes do Império, do General Kaulza e dos ultras da II República, recém convertidos ao revolucionarismo militante e militar por obra e graça de simpatias albanesas ou de cartilhas estúpidas ou estupidamente interiorizadas, gente da UDP (avó do BE!), do PC e não sei mais de quê, arranjaram a estrangeirinha final e foram “dizimadas” pelos comandos da Amadora. Houve uns tiros, morreram, salvo erro, duas pessoas, e houve um idiota que veio à televisão dizer que “a revolução continua”, idiota que os triunfadores substituíram por um filme do Danny Kay, o melhor filma da minha vida.
É por isso que a marcação da greve geral da CGTP e da UGT - leia-se, do PC e do PS - para 24 de Novembro assume um significado especial.
36 anos depois, os rapazes voltam à rua a 24, quiçá em comemoração dos seus antepassados, vencidos a 25, e para lembrar que a missão dos homens do 24 ainda “está por cumprir”.
Os generais da coisa sabem de ciência certa que, ao explorar até ao fundo o descontentamento popular, não adiantam nem um milímetro naquilo que dizem querer adiantar. Sabem que, se a austeridade não for a que já é, será pior. Sabem que a greve geral, se tiver algum efeito na vida dos “trabalhadores”, leia-se de cada um, será um efeito negativo, a começar na perda de mais um dia de salário e a acabar no agravamento da agitação social e no consequente agravamento da falta de confiança no país.
A exploração do descontentamento com o objectivo político de degradar a situação e de criar o caos é tão evidente para quem quiser ver que seria de esperar uma adesão à greve geral que ficasse muito longe dos desejos do PS e do PC.
Vamos a ver o que acontece. Entretanto, assinale-se, com nojo e esperança, o significado evidente da data escolhida. Sem esquecer que é uma 5ª feira, dia formidável para os apreciadores de pontes…
20.10.11
António Borges de Carvalho