O PRIMEIRO ELEMENTO
Desde que o Deputado Magalhães Mota, também conhecido por Magalhota Mães, nos idos de oitenta, deu início ao processo, vem a sociedade portuguesa, na paranóia infrene do politicamente correcto, perseguindo tudo quanto é quadro, político ou de outra natureza, não por não ser fiel à sua missão, não por não desempenhar o cargo com competência e dedicação, não por não ser sério na sua actividade, mas... porque é o que é, ou porque ganha mais do que os donos do politicamente correcto acham que deviam ganhar.
Não são poucos os que, para ocupar cargos para que foram eleitos ou nomeados, se vêm coagidos a pôr a vidinha na praça pública, o que têm e o que não têm, o que ganham ou o que não ganham, etc. Não contentes com isto, os donos da correcção atiram-se agora ao julgamento da justeza dos salários de cada um, ameaçando aos quatro ventos o senhor A, porque ganha cinco mil euros brutos (que incalculável fortuna!), ou o senhor B, que recebe seis mil e trezentos euros, entre salário e outras prebendas (que espantosa imoralidade!). Ninguém se lembra de perguntar se o senhor A ou o senhor B merecem o que ganham, ou se trabalham para isso, ou ainda se são tidos, no mercado, como valendo o que lhes é pago. Isso pouco interessa. O que dá dividendos, no nacional-invejismo, é o que os fulanos levam para casa, não o que fazem ou deixam de fazer.
É assim que, aos poucos, ou aos muitos, a vida política, e a vida empresarial à política ligada, vão tendo que ir buscar à "peluda" indivíduos progressivamente menos capazes e progressivamente mais interessados em receber o ordenado sem o merecer.
Se quisermos apurar os quatro elementos da vida portuguesa, como alguém apurou os da vida tout court (ar, água, terra e fogo), encontraremos, nesta socrapífia desgraça, a inveja, a teimosia, o justicialismo e a mentira.
O que isto vai dar, em termos de futuro, é tão imaginável quanto aterrador.
António Borges de Carvalho