TRABALHAR FAZ CALOS, OU DA DIGNIDADE DA REPÚBLICA
O Presidente da República recebeu, com as honras protocolares da ordem, as credenciais de seis novos embaixadores residentes.
Muito bem.
Muito bem uma ova. O chefe dos profissionais da Guarda Nacional Republicana - que não tem nada que ser republicana, como no Irão, só Nacional, como nos países civilizados - não está de acordo. Nem pensar. O homem acha a cerimónia “totalmente desmesurada”: um esquadrão de cavalaria da Unidade de Segurança e Honras de Estado, com 60 militares (um esquadrãozinho!), mais a respectiva charanga.
É evidente que a cerimónia, com honras de Estado ou sem honras de Estado, em termos de custos, custa coisa nenhuma. Está tudo pago, guardas, cavalos, etc.. Aliás, trata-se de uma unidade especial, cuja missão é exactamente essa: honras de Estado. Só que dá trabalho ao pessoal. Nefando crime. O pessoal não foi feito para trabalhar!
Noutra perspectiva, admitamos que talvez a inteligente criatura queira acabar com a Unidade de Honras de Estado, mandar os camaradas para o desemprego, distribuir os cavalos pelos talhos, vender os instrumentos à filarmónica de Cavacais de Cima, etc. O fulano, em vez de ficar contente por ver os “seus” homens tornar-se úteis e a República honrada, acha que “as Honras podiam perfeitamente ser feitas por não polícias”, quem sabe se por alunos da escola C+1-2x3, ou por coristas do Parque Mayer.
É de pensar no assunto.
Até aqui, o post foi motivado por razões cavalares, não havendo muito mais a exigir deste soba da GNR.
O pior, porém, vem a seguir.
A Presidência da República veio declarar que o Presidente, nesta matéria, não passa de um actor, “é apenas um actor”. Por outras palavras, para a Presidência, o mais alto representante da República, ao exercer o seu múnus com a dignidade e a pompa tradicionais, mais não faz que prestar-se a uma peça, ou palhaçada, que “o Protocolo de Estado definiu”, isto é, o Presidente da República não é mais que uma espécie de contínuo do Protocolo de Estado, executando disciplinadamente as ordens dele emanadas. Daqui se conclui que, para a Presidência, o Presidente a) não está de acordo com o Protocolo, b) aceita-o tipo carneiro e c) borra-se todo com as bocas do cavalar soba da caserna.
Bonito!
26.10.11
António Borges de Carvalho