FADISTICES
Não sabe o IRRITADO para que servirá ao Fado passar a “património imaterial da humanidade”. Nem sabe o que isso é, nem se dá dinheiro, nem se aumenta o prestígio do país, nem nada. Ignorância total e até culposa, já que há meses, para além da crise e da bola, não se fala noutra coisa, sendo de presumir que a indispensável explicação já tenha sido referida nalgum dos unanimemente entusiasmados “órgãos de informação”.
O IRRITADO gosta de uns fadunchos de vez em quando, gosta de guitarradas, mas não é do milleu.
Feitas estas declarações, de interesse ou do seu contrário, diga-se que o IRRITADO começou a avaliar a patriótica importância destas movimentações, por certo tão trabalhosas como caras, ao dar de caras com os “parceiros” do Fado no grande concurso mundial que, aos que o ganharem, fará mudar de dono. No nosso caso, o Fado deixará de ser nosso para passar a sê-lo “da humanidade”. Uma espécie de take over ou de vitoriosa OPV.
Aqui vão alguns dos tais parceiros, tidos pelos jornais por mais importantes:
- A Sabedoria dos Yurupari, ameríndios que gostam de jaguares;
- O Nijem Kolo, dança sem música da Dalmácia;
- A Tsiattista, dança cipriota, com cantorias várias;
- A Peregrinação a Qoylluriti, coisa que há peruanos que fazem num glaciar qualquer;
- Umas espanholadas de Algemesí, seja lá isso o que for;
- As Práticas e expressões musicais de Senufo, no Burkina Fasso;
- O Jultagi, funambulismo coreano;
- Etc. e tal.
Tudo coisas importantíssimas, que muito vão acrescentar ao património da humanidade, como é de ver!
O IRRITADO, que não é fadista nem acha que o Fado seja uma arte por aí além em matéria de sofisticação ou qualidade musical, fica de rastos com a companhia que lhe arranjaram. Goste-se ou não, o Fado tem uma dignidade que não se pode compaginar com manifestações folclóricas de jaez tal que as expressões do Senufo, os jaguares dos Yurupari ou as habilidades dos coreanos na corda bamba.
Se a candidatura fosse do Carnaval de Boliqueime ou da Associação dos Vendedores de Banha da Cobra, o IRRITADO apoiava sem reservas. Mas do Fado?
Que diabo, há, ou devia haver, limites para tudo. Há, ou devia haver, um pouco mais de respeito próprio dos portugueses em relação ao que lhes é querido, como o Fado.
É evidente que há uma data de fulanos e fulanas que ganham o seu à conta, que vão à Indonésia e mais não sei onde à conta, que se auto promovem à conta, que dizem coisas à conta, etc.
À conta de quem? O IRRITADO não sabe, mas desconfia.
Em conclusão, mais vale que o Fado seja só nosso. A “humanidade” que se lixe.
24.11.11
António Borges de Carvalho