TRABALHAR FAZ CALOS
À hora a que estas linhas são produzidas está o camarada Silva a invectivar a Nação com a cassete do costume.
O fim de uns feriados e de uns dias de férias, mais a meia hora de trabalho, é tudo estratégia de classe, destinada a pôr os trabalhadores “a pão e água”. Não me lembro de igual protesto quando se trabalhava ao domingo, de borla, na “batalha da produção”, para “defender o socialismo”.
Trabalhar mais pelo mesmo dinheiro é manobra do grande capital para esmagar as massas trabalhadoras. Não me lembro de o mesmo ter sido dito quando o horário de trabalho diminuiu ou as férias foram alargadas. Se há que pagar mais quando se trabalha mais tempo, porque não reclamaram menores salários quando se passou a trabalhar menos?
Parece que, feitas as contas, há quem passe a trabalhar mais 22 dias por ano. Não sei se as contas estão certas, mas acho que, se assim for, ainda bem.
Os patrões deveriam ser incitados a, havendo um aumento na produção claramente motivado por estes 22 dias, de alguma forma o repercutissem no bem dos seus trabalhadores.
O que querem os silvas senão dar cabo do que ainda resta, a bem das suas convicções trogloditas? Nada há, nem nada jamais haverá que os faça pensar de outra maneira. E, se conseguissem, pôr todos na mais horrenda miséria, como conseguiram em vários sítios, continuariam a dizer que a culpa era dos mesmos, mesmo que já tivessem acabado com tais mesmos.
Uma coisa há que está, ou devia estar, na mão de quem trabalha: acabar com os sindicatos que tem e arranjar outros com outra visão das coisas, muito bom senso e alguma inteligência. Mas isto é puro wishful thinking.
22.12.11
António Borges de Carvalho