BELO SISTEMA!
É sabido que os trabalhadores portuários são dos mais bem pagos do país. Os estivadores, por exemplo, são reconhecidos publicamente como uma espécie de máfia, tão cheia de poder como vazia de sentido de responsabilidade, social ou outra.
Ora esta gente decidiu juntar-se às tropas da CP, da Carris, dos cacilheiros, da TAP e de quejandos.
A sua “luta” não é, como naqueles casos, contra os “escravos” que se acotovelam nas paragens, nas estações, nos aeroportos. Lutam “só” para encurralar uns 200 navios, segundo contas que alguém fez e pôs nos jornais. Os navios ficam ao largo, ou atracados, à espera de licença para entrar ou descarregar. Assim, consegue-se atrasar os fornecimentos necessários às pessoas, ao comércio, à indústria. Atrasando-os, tornam-nos mais caros e menos acessíveis. No fim do processo, os prejudicados são os mesmos: os tipos das paragens, das estações, dos aeroportos.
Já repararam que só há greves no Estado e nas organizações que dele dependem ou são de sua propriedade?
Esparramados no seu trono de emprego certo e salário digno, dão-se ao luxo de reivindicar tudo o que lhes vier à cabeça, pisando quem estiver ao seu alcance. A crise não é para eles! Escrúpulos, desconhecem.
Pode dizer-se também que são estúpidos. Como a dona Ângela, que ainda não percebeu que se arrisca a matar a galinha dos ovos de oiro que lhe sustenta a indústria e o orçamento, os instalados no Estado e pelo Estado ainda não perceberam que estão a torcer o pescoço à codorniz dos ovos de latão.
Afinal, se calhar têm desculpa. Não se passa mais ou menos o mesmo com classes teoricamente mais cultas e alegadamente mais responsáveis? Não andam para aí os juízes, talvez a mais bem paga classe da República*, a fazer as mais vis misérias politiqueiras? Não andam os militares, que sempre tiveram inúmeros privilégios, a fazer manifestações e a intrigar como qualquer aparatchique da política? Não anda um tal Picanço, chefe dos quadros do Estado, aos berros, a querer ser mais que os outros?
Os tipos dos portos têm os mesmos “direitos”, não é? Claro que é. E, como os demais, não têm qualquer sombra de obrigações.
Belo sistema!
9.1.12
António Borges de Carvalho
* Das 16 mais altas reformas do Estado, 15 são de juízes.