AI, SÊGÔ, SÊGÔ
Dona Ségolène lá vai andando. A sua principal qualidade, nas suas próprias palavras, é “ser mulher”. Isto é, a apregoada igualdade dos sexos não é igualdade nenhuma. Ser mulher é ser melhor que os seres humanos do outro sexo. Ser mulher é uma peça curricular preciosa. Ser homem é um capitis deminutio.
Esclarecidas as coisas nestes termos, veja-se de que mulher se trata. Aos 25 anos, processou o próprio pai, o qual, presume-se, era um machista impiedoso e não queria que ela viesse a ser énarque. Daí, quem sabe se a vingança contra os homens em geral, por ser melhor que eles, por eles serem parecidos com o pai. Serão? Seria o pai um mauzão de tal ordem que fosse preciso tratar das questões de família nos tribunais? Ficam as perguntas, não deixando de aventar como resposta que o que ela queria, se calhar, era publicidade. Não deixando, outrossim, de pensar que o senhor, se calhar, achava que, aos 25 anos, a menina já tinha muito boa idade para se governar e pagar os seus próprios estudos.
Em énarque se tornou, o que, em França, é mais ou menos como ser arquiduque no tempo do Rei Sol. De énarque à intimidade de Miterrand foi um passo. Depois, a glória.
A senhora juntou-se com um senhor que conheceu nas entranhas do Partido. Teve filhos, mas nunca casou. Porquê? Se calhar porque tem dos homens a imagem de uma coisa que serve para fazer meninos. Se calhar - imagina a leviandade maldicente do Irritado - só não mandou o homem às urtigas porque tal podia ser eleitoralmente inconveniente.
Dona Ségolène tem raras qualidades. Por exemplo, quando se lhe pergunta sobre a adesão da Turquia à União, diz que “a minha opinião é a do povo francês”. Afirmação com duas vertentes, qual delas a mais inebriante. Por um lado, sacode as responsabilidades para cima dos franceses, por outro, informa os demais países que, como aconteceu com o Tratado Constitucional, se os franceses não quiserem, os outros que se lixem.
E mais: dona Ségolène quer julgamentos populares para os políticos. Notável. A demagogia em estado puro.
Se isto é, como a própria afirma, ser herdeira de Miterrand, não é difícil imaginar os saltos que o cadáver do dito dará nas profundezas do mausoléu.
António Borges de Carvalho