GALILEU APRÈS LA LETTRE
Aqui há tempos, dona Manuela resolveu dizer uma graça, mais ou menos inculcando que as críticas dos seus críticos só fariam sentido se se “suspendesse a democracia”. Era evidente que a senhora queria dizer o que disse, isto é, que havia medidas só possíveis se tal acontecesse. De forma nenhuma era sustentável que quisesse fazê-lo ou que achasse que tal se devia fazer. Mas a verrina nacional foi tonitruante: o que ela queria era voltar ao salazarismo, ao fascismo, à ditadura da II República. A malta ria, vituperava, insultava-a à vontade, sem peias. E, no entanto, ela tinha razão.
Na mesma época, dona Manuela era acusada de ser uma velha do Restelo, de andar a aterrorizar as pessoas, de querer ignorar que “havia vida para além do défice” e doutras coisas piores. E, no entanto, ela tinha carradas de razão, como o futuro veio a demonstrar à saciedade.
Agora, a mesma senhora, sobre o serviço de saúde, disse que, a partir de certa idade, havia tratamentos cujo alto preço implicava que quem pudesse e precisasse, teria que os pagar.
A verrina nacional interpreta que ela estava a fazer a defesa do fim dos tratamentos aos mais velhos, que punha em causa a sacrossanta instituição do serviço nacional de saúde, que quer matar as pessoas, que não passa de uma “ultraliberal” assanhada contra o povo, etc. E, no entanto, ela não dizia mais que a verdade, dura e crua: a concepção ultrasocialista do SNS tem os dias contados quer se queira quer não.
Apesar do fosso de desgraça em que o PS nos meteu e parece querer continuar a meter, certa malta - opinantes, pensadores, jornalistas, comentadores, partidos políticos e até umas dúzias de pessoas normais - continua a preferir à verdade as ilusões com que o pintodesousismo, durante mais de seis anos, lhes andou a lavar o cérebro.
Há gente para quem não há remédio. Se o SNS fosse rico, o IRRITADO aconselharia tratamentos gratuitos aos sindromas da fantasia e da patacoada cretina e enganosa.
Como não há dinheiro, a senhora continuará a ser uma espécie de Galileu do séc. XXI, e só não será condenada à morte porque os tempos são outros.
16.1.12
António Borges de Carvalho