BARRIGADAS
Magna pessegada, ontem, no parlamento. Discussão sobre as barrigas de aluguer e suas implicações sócio-culturais.
Vistas as coisas, o IRRITADO ficou sem perceber quase nada. É muita areia para a sua pobre camioneta, como diria o amigo banana.
A nova gerência do “Público” – o Belmiro deve andar a dormir na forma! – embandeirou em arco com as teses dos camaradas do BE, que terão “esmagado” as massas do bloco central mediante alta argumentação jurídico-sexual.
A coisa resulta mais ou menos como segue:
Vossa Excelência, minha senhora, quer ter filhos mas não lhe apetece essa chatice de andar nove meses agarrada à pança e, ainda por cima, ver-se obrigada, como qualquer estúpida, a parir como as cadelas? Vá ter com o BE. O BE tem um banco de barrigas à sua espera.
É “casada” com outra senhora? Não hesite. Discuta o assunto com ela, compre uns cc de esperma ao Jójó, e, tubo de ensaio na malinha, vá ter com o BE. O BE arranjará maneira de resolver o seu problema.
É solteira, não tem companheiro nem companheira, nem marido nem marida? Não se preocupe. Vá ter com a Ana Drago ou com o Fazenda. Eles explicam tudo, tratam das coisinhas. Não tarda nada está grávida, ou outra qualquer por si, o que, do ponto de vista dos “direitos humanos”, é a mesmíssima coisa.
Caso se tenha consorciado à antiga, isto é, com um homem, na Conservatória ou até na Igreja, o BE garante a sua liberdade, quer dizer, se o seu marido for uma besta reaccionária e a quiser obrigar a parir, trata-lhe do divórcio gratuitamente e arranja uma desgraçada qualquer para parir por si o filho de um sueco, um indiano, um chinês, um preto, segundo as suas preferências cromáticas.
Em qualquer caso, o BE proporciona o único parto verdadeiramente sem dor do mercado. Tudo de borla, que o BE não quer que as outras gajas, muito inferiores a si, recebam um tostão pelo trabalhinho ou se interessem pelo bebé que pariram e ao qual, evidentemente, não têm qualquer direito. São como as torradeiras, que torram o pão mas não o comem! Qualquer semelhança entre tais gajas e a espécie humana é pura coincidência, garante o BE.
Na sua política super/ultra/hiper liberal nestas matérias, o BE só falha num aspecto. Deixa de fora os homens. Sim, meus amigos: e nós? Então se um homem quiser um filho, mas não quiser chatices com mulheres, não pode comprar uns ovos, galá-los e pô-los no choco? E se você for lilas, não pode arranjar uma criancinha para você e o seu barbudo mais-que-tudo se entreterem lá em casa? Que raio, o BE deve ter-se esquecido de si e dos seus diáfanos coleguinhas! Descriminação! E os “direitos humanos”? Se eu fosse a si fazia queixa à ILGA, ou lá o que é, e convocava uma manifestação de protesto à porta do Castelo Branco e da velhota, imagens vivas do progresso que anima as almas bloquistas.
O IRRITADO, como acima se demonstra, não é hiper/super/ultra liberal. O Bloco é que sim, ao contrário do que por aí se diz.
Mas não deixa de dar aqui os seus conselhos, cheios de ternura e de ânsia de bem-fazer.
20.1.12
António Borges de Carvalho