O QUE EXISTE E O QUE VALE
Mergulhado nas bocas sobre os “piegas”, o IRRITADO irritou-se com o Primeiro-Ministro. Que diabo, então o homem chama piegas aos cidadãos? A culpa será do fado, património da ONU, ou lá o que é? Será do “assistencialismo”? Como é que o fulano se foi lembrar de uma destas?
O Carlos lançou os seus anátemas trogloditas. O Jerónimo assanhou-se. O Louça professorou aleivosias. O Zorrinho zorrou paspalhices. A imprensa disse parvoíces. Um sururu geral, de indignação e repúdio. Manchetes, telejornais, um fartote.
Perante esta imparável escandaleira, o IRRITADO acabou por ir à procura das declarações que tanto frisson oposicionista e mediático provocaram.
Visto com estes que a terra há-de comer, foi assim: o homem, diante de uma plateia de educandos e educadores, disse que os estudantes deviam dedicar-se ao trabalho com afinco e, se falhassem, deviam procurar melhorar as suas aptidões em vez de esgrimir desculpas, acusando a escola, os professores, o sistema, a família, a sociedade, isto é, devia reagir com coragem em vez de procurar explicações piegas.
E foi a partir de uma coisa destas que se criou a generalizada gritaria sobre a tremenda ofensa que Passos Coelho fez aos portugueses, gente fixe, que deu mundos ao mundo, gente corajosa, que ganhou a batalha de Aljubarrota, gente impecável, que acabou com a pena de morte, gente hoje submetida a um “fraco rei”, “que fraca faz a forte gente”! Um ultraliberal despudorado, insultuoso, ignóbil, uma desgraça nacional.
Assim se fabrica a “verdade”. O que vale não é o que existe, mas o que se acha que devia ter existido, para facilitar a vozearia.
Já agora, vistas as coisas mais fundo, se o primeiro-ministro nos tivesse mesmo chamado piegas andaria muito longe da verdade?
8.2.12
António Borges de Carvalho