TROPA FANDANGA
Os inacreditáveis membros de uma coisa que dá pelo nome de AOFA, todos militares de alto gabarito e indesmentível amor à Pátria, resolveram insultar o ministro por dizer que as Forças Armadas, como estão, são insustentáveis, que quem não tem vocação para a coisa o melhor é ir à vida e que os tipos da tal associação andam, entre outras ilegitimidades, a fazer política.
Ora esta gente, que de militar pouco terá para além da farda e do ordenado, acha que, por mais insustentáveis, as suas mordomias, salários, promoções, hospitais, supermercados, etc., ao contrário do que se passa com qualquer cidadão, estão acima de crítica e abaixo de cortes orçamentais.
Outrossim, acha que, mesmo sem gosto nenhum pela profissão, deve andar por lá e viver à conta.
Acha também que, quando esgrime com as “medidas lesivas” – como se não estivéssemos todos a ser objecto de “medidas lesivas”, quando berra que o problema é o do BPN, sem o qual haveria mais dinheiro para os militares – como se os demais não fossem igualmente prejudicados por nacionalizações malucas, injecções de capital sem limite nem critério, até à consumação final desta caríssima bagunça com a venda do banco, quando exige que todas as autoridades deste país, a todos os níveis, os recebam respeitosamente e à revelia da hierarquia a quem devem obediência, e obediência militar, não está a fazer política.
Estará a fazer o quê?
Eu digo. Está, politicamente, a achar que é mais que os outros. Está a inculcar, politicamente, que a disciplina militar não se lhe aplica. Está a lutar, politicamente, contra um governo a que deve obediência. Está a esquecer que jurou servir e defender a Pátria e acatar as directivas do poder político. Reclama “cidadania”, esquecendo que a condição militar contém, por natureza, limites ao seu exercício.
Mais. Esta gente opina que tem direito a ser política. Pois tem. Cada militar tem, como os demais, direito de opinião e de voto, entre outras coisas. Mas, se se tornou militar, tem a mais estrita obrigação de guardar opiniões e opções desta natureza, não as aplicando ao exercício da profissão, como se se tratasse de motoristas da Carris ou maquinistas da CP, sem fazer greve mas fazendo tudo o resto, como insultar o poder legítimo, exigir a demissão do ministro e outras reivindicações do estilo.
Esta gente diz que o ministro não lhes tem “respeito”. É mentira. Mas, a ser verdade, seria uma consequência de não merecer tal coisa.
O IRRITADO aconselha vivamente o governo a que pegue nesta ciganagem e a passe compulsivamente à reforma, ou à reserva ou a outra coisa do género, isto se não tiver coragem ou cobertura legal para os pôr todos no olho da rua sem indemnização, por falta de profissionalismo, de sentido de honra, por falta de dignidade institucional e por ofensa grave a todos os portugueses, que têm o direito de sonhar com umas forças armadas diferentes, melhores, mais responsáveis e mais sustentáveis.
Uma última observação. Esta gente clama que as FA “não são insustentáveis, estão insustentáveis!”. Ainda que não seja isso o que querem dizer, põem o dedo na ferida: as FA, tal como estão, mal dimensionadas, representadas por gente grosseira, irresponsável, mais interessada na barriguinha que na missão, são insustentáveis. Ou se acaba com esta gente ou não deixarão de o ser.
8.2.12
António Borges de Carvalho