O SENHOR CHOUBEL
Várias coisas há a dizer sobre a conversa dos senhores Gaspar e Schäubel, carinhosamente designado por Choubel pelos nossos letrados jornalistas.
A primeira é de cariz deontológico.
O senhor Carlos Magno, prestigiado escritor de notícias, há pouco designado presidente de uma coisa qualquer que tem por missão “regular” a informação, não deu por nada.
A TVI abusa de uma sessão de imagens mudas para, mercê de um sofisticado e proibido aparelho, ouvir uma conversa entre dois ministros. Não contente com a coisa, põe a gravação no ar.
O senhor Magno faz ouvidos de mercador. Nós continuamos a pagar uma estrutura reguladora que regula coisa nenhuma.
A segunda tem carácter ergonómico.
Verificou-se que o senhor Gaspar falou com o senhor Schäubel, perdão, Choubel, curvado sobre ele. A nossa informação, bem como os políticos de serviço, achou que tal era uma posição de submissão, uma indignidade e uma ofensa a todos nós. Esqueceram-se de dizer, ou reparar – a Europa inteira já reparou mas estes gajos não – que o senhor Schäubel, perdão, Choubel, se desloca numa cadeira de rodas, sendo da mais elementar boa educação que os demais, estando de pé, se curvem para falar com ele.
A terceira é de raiz política.
Os camaradas do costume, a começar pelo Seguro, a passar pelo Jerónimo, a continuar no Louça e a acabar no mais feroz membro da oposição, o Pacheco Pereira, bem como inúmeros jornalistas e comentadores, concluíram que a coisa vem mostrar uma série de mentiras do governo, que diz que não precisa de mais dinheiro e mais tempo, mas afinal precisa de mais dinheiro e mais tempo. Ninguém foi capaz de perceber que o ministro mais não fez que tomar, com assinalável êxito, cautelas em relação a um futuro incerto. Ninguém foi capaz de elogiar o homem, nem de dizer que a TVI não tinha o direito de fazer o que fez.
A quarta é de fundo pragmático.
Por causa da conversa, os juros baixaram!
A TVI não merece elogios por causa disto, mas lá que, mui pragmaticamente, a coisa funcionou, disso não há dúvida nenhuma.
Parabéns ao Gaspar. Que o Schäubel seja fiel ao que disse e que a cáfila se lixe.
11.2-12
António Borges de Carvalho