MISSIVA
Senhor Presidente da República, Excelência
Está Vossa Excelência em queda livre na opinião dos seus concidadãos, o que é mau para si e para eles.
É evidente que Vossa Excelência tem um cargo difícil, quase absurdo. Vossa Excelência não é carne nem peixe. Não dá ordens, larga bitaites. Se não se mete, é porque não se mete, se se mete, não devia meter-se ou mete-se mal. Gostava de ser presidente dos portugueses, ou da Nação, mas não é nada disso. É-o da República e é um pau. Aliás, para a Constituição, a Nação nem sequer existe.
Vossa Excelência é, como todos nós, vítima de uma Constituição estúpida q.b., como não existe em mais lado nenhum.
Mas, se resolveu candidatar-se, tem que saber aguentar com estoicismo e savoir faire.
Ora não é isso o que tem acontecido. Vossa Excelência mete o pé na argola com uma frequência aterradora.
Vem isto a propósito das suas últimas argoladas.
Vossa Excelência arranjou uma coisa para discutir problemas, mas fechou-a aos olhos do público. Só gozam dela os que fazem o supremo sacrifício de aceitar o seu convite e de passar uma tarde a ouvir discursos, lutando contra o sono e não tendo, sequer, a consolação de aparecer na televisão.
Vossa Excelência teve “um impedimento” que o fez não dar a cara a uma pequena multidão de miúdos mais ou menos malcriados. Podia ter inventado um impedimento – uma diarreia, uma gripe, uma unha encravada, por exemplo. Mas não, resolveu não dar satisfações.
Agora, lê nos jornais que a sua imagem está ainda mais abaixo do que ficou na história da espionagem do Pinto de Sousa. Naturalmente, pensa como Lenine: que fazer?
Preocupado com a incómoda situação de Vossa Excelência, o IRRITADO permite-se sugerir soluções.
Quanto às suas conferências, abra-as ao público e aos jornalistas, ou acabe com elas.
Quanto à António Arroio – a mais grave de todas as argoladas – mande dizer ao director da escola que combine com os áulicos da presidência uma visita num dia em que não haja “impedimentos”. E vá lá, homem, vá lá, enfrente a miudagem com dignidade e bravura! Ninguém o come!
Não o fazendo, estará a deitar achas na fogueira que o consome e a oferecer argumentos a quem não gosta de si, gente que não deixará de juntar aos adjectivos que com tanta injustiça o brinda, o mais grave de todos: cobarde.
Quem o avisa seu amigo é. Amizade que, no caso do IRRITADO, está acima de qualquer suspeita, não é?
19.2.12
António Borges de Carvalho