MOBILIDADE
Magno clamor assolou a Pátria por causa da chamada “mobildade” dos funcionários públicos.
Que se trata de mais um “ataque aos trabalhadores”, mais uma manobra para arranjar despedimentos, mais uma falta de respeito, mais um acesso de “ultraliberalismo”, mais um nefando crime desta gente.
Bem pode o primeiro-ministro dizer, e faz mal, que não se vai despedir ninguém – até porque os funcionários são indespedíveis, como toda a gente sabe -, que se atenderá à circunstância individual de cada um, que mais isto e mais aquilo, tantos istos e tantos aquilos que uma pessoa até fica a pensar que se trata de mais uma causa sem efeito.
Mas o clamor é imparável, diga o homem o que disser, deite na fervura a água que deitar.
Uma sociedade anquilosada pela falta de mobilidade, com milhões de pessoas amarradas a apartamentos em má hora comprados, com milhões de pessoas que ainda acham que o trabalho é um direito como os outros direitos e que, se trabalham em Alcabideche terão que lá ficar para o resto da vida quer lá haja trabalho quer não, ao ver abrir uma temerosa luzinha no fundo do túnel das suas paralíticas vidas, desata aos gritos que lhe estão a fazer mal, que estão a aniquilar-lhe os direitos, que a querem matar de fome!
Eis o que se conseguiu em trinta tal anos de “direitos sociais”, isto é, de desculpas para os mais variados encostos e de incentivos para que se não puxe pela cabecinha e pelo canastro para progredir na vida.
Dar mobilidade aos portugueses - a todos e não só aos funcionários públicos -, meter-lhes na cabeça que deveriam querer mudar para melhor ou para não tão mau, que deveriam querer exercer as suas qualificações e aptidões onde elas pudessem ser melhor aproveitadas, com coragem, brio e auto-estima para poder progredir na vida, eis o que seria uma revolução cultural que, em geral, melhorairia a vida de cada um e, em particular, a do país.
Qual quê! As forças “progressistas” (as mais estupidamente conservadoras da Europa) reagem como se as estivessem a torturar, e lançam os seus anátemas contra tudo o que possa significar a mais pequena mudança nos seus hábitos, mesmo sabendo que os hábitos que andaram a meter no corpo de cada um a outra coisa não levam senão ao que temos pela frente: a derrocada económica e social.
Os exemplos doutamente expendidos no Parlamento, e não só, são do mais primitivo assistencialismo (do mau, porque também o há do bom): então, e uma mulher que trabalha em Faro vê o marido ser deslocado para Bragança?; então, e uma pessoa que comprou uma casa em Santo António dos Cavaleiros vai ter que alugar outra em Moreira de Cónegos? A inteligência deste tipo de argumentos dispensa adjectivos, por uma questão de decência.
A intragável Ferreira Alves, uma das mais altas luminárias da nossa inteligentsia de esquerda, no caso da esquerda soarista, dizia ontem que a medida anunciada sobre a mobilidade se devia ao pensamento conservador e retrógrado do CDS. O IRRITADO não faz ideia a que pensamento se deve a iniciativa, mas de uma coisa tem a certeza: tal pensamento, de conservador nada tem, bem pelo contrário. E duvida que seja do CDS.
A mobilidade é mais um princípio que deve ser metido na cabeça das pessoas que uma medida governamental isolada. Isto sem prejuízo de a medida em causa poder ser um pequeno passo para que, um dia, possamos passar a viver no mundo real e não no miserável paraíso que os socialismos inventaram.
20.2.12
António Borges de Carvalho