A CORTINA DE FUMO
Vale a pena, nem que seja pela última vez, folhear o número de Sábado desse desinteressante molho de papéis pintados com tinta que dá pelo nome de "Sol". O Primeiro Ministro encontrou, finalmente, o alinhamento perfeito com um jornal. Ele é o director que, pela segunda vez consecutiva, o incensa com as mais rasgadas loas e vitupera os ignaros que se têm dedicado a explorar o insignificante fait divers da sua mais que impecável licenciatura. Ele é um fulano, cujo nome me escapa, a quem é dada uma página inteira para fazer o mesmo. A fim de completar o bouquet, o molho de papéis foi buscar o conhecido socialista Freitas do Amaral, exemplo máximo de coerência e de firmeza de carácter, dando-lhe outra página para pôr Pinto de Sousa (Sócrates) no altar dos sábios. O senhor Lima, fulano que se dedica - deve viver disso - há para aí três anos, a dizer mal de Santana Lopes, viu-se à rasca para voltar à carga. Mas era preciso desviar as atenções. Que fazer? E aí vai ele buscar o túnel do Marquês: que a coisa não vai funcionar, que vai ser uma confusão, e por aí fora. Como a última aparição de Santana Lopes foi para dizer que o PM devia ter ido ao parlamento em vez de ir à RTP, e como se trata de uma verdade inatacável, havia que ir buscar outra coisa qualquer. Foi o túnel, pronto, para a semana arranja-se mais. A história do lobo e do cordeiro em versão século XXI.
Tão badalhoco como isto, é o comportamento da restante "informação", soit disant à procura da verdade, mas num louco afã para a esconder. Enredadas as pessoas na exploração de todos os detalhes e pormenores de coisinhas e coisetas, distraídas com feitos e desfeitos das universidades, tropeçantes em inquéritos e investigações, nem sequer percebem que lhes tapam os olhos com uma cortina de fumo, a ocultar o que, politicamente, é importante: o facto, indesmentido, indesmentível, impróprio de um PM, que as aldrabices do senhor pinto de Sousa (Sócrates) em relação a si próprio constitui. A cortina de fumo adensa-se a cada dado novo. O PM, protegido pelos medos da oposição (oposição?!), pela incompetência da imprensa em geral, pelo apoio do "Sol", pela benevolência de SEPIIIRPPDAACS, vê os seus pecados progressivamente obnubilados e transformados em falhas burocráticas e trapalhadas das universidades.
Não tarda que Pinto de Sousa saia disto tudo como uma vítima, e um herói. Em matéria de manipulação, estamos conversados. Há que lhe tirar o chapéu.
António Borges de Carvalho