CUIDADO COM O TECLADO
Farto de pagar fortunas a um dentista “clássico”, o IRRITADO, ao ver num centro comercial uma loja de dentistas, achou que era uma possibilidade de se livrar das gigantescas facturas do seu fornecedor habitual.
Ora vamos lé experimentar. Entrou, e disse à menina que queria fazer uma limpeza aos dentes de baixo. A menina procedeu à identificação do paciente, nome, morada, email, telefone, uma data de coisas.
Passados uns dez minutos, foi o IRRITADO metido num gabinete onde estava uma jovem baixota, mais ou menos feia - a “doutora” - e uma louraça, estilo alterne – a “enfermeira”.
Após a colocação do habitual guardanapinho, a “doutora”, munida do instrumental da ordem, debruçou-se sobre o IRRITADO. Tinha a coisa que serve para tapar a boca (dela) descaída. Pôs-se ao trabalho. A boca (dela), que respirava direitinha ao nariz do paciente – devia ter o nariz entupido - cheirava a cano que tresandava. O IRRITADO passou a “senhor António”, você para aqui, você para ali.
Ao contrário do que é seu hábito, conteve-se. A miúda é uma desgraçada qualquer, está a ver se ganha uns cobres, deixa-a ser primitiva.
Finda a sessão, dirigiu-se ao balcão e pagou cinquenta euros pela coisa. Cheio de vómitos provocados pelo bafo, quis sair dali o mais depressa possível.
Eis senão quando, surge um matulão de bata branca, algum “doutor”, pensou o IRRITADO. O homem convidou-o a sentar-se num cubículo e, do alto de uma secretária de executivo, disse de sua justiça. Você precisa de uns dentes novos, coisa que faremos da melhor vontade. Acrescentou a descrição técnico-científica das obras a realizar, tipo reabilitação urbana, cirurgia, parafusos, colas, moldes, o diacho. O IRRITADO, humildemente, perguntou quanto custava tal e tão alta aplicação da mais moderna cirurgia.
Uns quinze mil euros, disse o calmeirão.
Conteve-se mais uma vez. Nem pense!, balbuciou.
A personagem, imperturbável, começou então a explicar que, para obviar às dificuldades financeiras do IRRITADO, tinha à disposição um programa, patrocinado por uma sociedade da especialidade, a qual, mediante a assinatura de um empréstimo, providenciaria o dinheiro, sendo este pago em 48 meses, com 17% de juros. Uma pechincha!
O IRRITADO conteve-se outra vez. Disse que ia pensar, e saiu pela porta fora a todo o galope.
Quando chegou a casa foi ver-se ao espelho. Pela módica quantia de cinquenta euros mais uns “vocês” e uns “senhor António”, mais uns bafos no nariz, os dentes estavam tão castanhos como antes do “tratamento”.
Conclusão: tratava-se de um negócio financeiro, tipo conto do vigário.
Parece que anda para aí uma “entidade” qualquer a fiscalizar, multar e fechar tascas deste tipo. Ainda bem. Quanto ao IRRITADO, continua com os seus preciosos dentinhos, naturais e postiços, e vai juntar umas massas para uma limpeza no “clássico.
10.3.12
António Borges de Carvalho