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Segundo a opinião de um opinante da moda - um tal Marques Lopes, a quem um comentador do IRRITADO, com razão ou sem ela, chama “cabeça de porco” - em quatro anos sairam de Portugal quatrocentos e oitenta e cinco mil cento e vinte oito pessoas. Sim, meus senhores, não foram quatrocentos mil, nem quinhentos, foram 485128, nem mais um nem menos um! É de presumir que, à hora em que o estrambólico fulano escrevia, já tivessem saído mais trinta e dois mil duzentos e vinte e quatro, e entrado vinte e três mil cento e trinta e dois, pelo que a informação comunicada ao povo não pode deixar de estar desactualizada.
Dando de barato o número do fulano, com origem, segundo afirma, no Pordata, restaria saber quais os critérios usados para chegar a um número tão preciso. Mas não é isso o que anima, ou preocupa, o tal Lopes. Anima-o e preocupa-o a indignação contra "as políticas" que conduziram a tamanha hecatombe. E aproveita para desatar à castanhada no governo - com carradas de razão, dirá quem ler sem pensar um bocadinho. Como foram feitas tais contas? Mistério. Será, por defeito, o número de portugueses que embarcaram no aeroporto? Será, por excesso, o total dos registos consulares dos tais quatro anos? Será, outra vez por defeito, o indeterminável número de portugueses que passou a fronteira em Elvas?
Será uma coisa qualquer, tudo menos algo, sequer, aparentado com a verdade. Primeiro, por que os tais “qualificados” de que tanto se fala andam por esse mundo na maior, a fazer curriculo. Só eu, conto para uma série de sobrinhos, directos e netos, na Califórnia, no Texas, no Brasil, em Espanha, Reino Unido, e não sei mais onde. Todos bem, felizmente. Serão estes os tais emigrantes sem solução na mãe pátria? Certamente que não. Andam a governar-se. Os tempos mudaram, as profissões são outras, as pessoas têm o direito, ainda bem, de poder escolher sem fronteiras. Por cá os ordenados são baixos? É verdade, mas os preços também. Há défice de oferta? É verdade, mas também há inflação de profissionais disto e daquilo. Há desiquilíbrios de rendimento que empurrem as pessoas para outros lugares? Há sim senhor, mas também há a recusa sistemática de empregos menos “dignos”, como se o trabalho fosse uma indignidade. Facto é que muitos portugueses preferem a precariedade e a carreira, com altos e baixos, à aldrabice dos empregos para a vida e das diuturnidades garantidinhas.
Fazem falta ao país? Uns sim, outros não tanto. Quem não faz cá falta nenhuma são os que andam pendurados nos sindicatos mais retrógrados do mundo civilizado. Uns voltam outros não? Com certeza. Os que voltam, ou não se aguentaram lá por fora, ou são dos que fazem falta por cá. Todos bem partidos, todos bemvindos.
O drama não é drama nenhum, a não ser que se queira andar para aí, como o Lopes - por conveniência política, ânsia de captar descontentes ou pura estupidez – a exponenciar os casos de drama social que há na emigração, que não serão em quantidades alarmantes.
Já não há malas de cartão nem bidonviles. O que há é uma geração que descobriu que não vale a pena ter as pernas cortadas por um sistema que deu cabo da iniciativa, do sentido do risco, da construção individual de uma vida, em favor de comodidades como a dos contratos colectivos e do poder dos Arménios que por aí pululam.
22.6.15