DO TRIUNFO DA TRAMPA
Que poderia o Breivk querer com os assassínios que cometeu?
Safar-se? Sabia muito bem que ia ser apanhado e que os brandos costumes da humanidade ocidental não lhe pagariam na mesma moeda.
Obter algum ganho político? Ganhariam as ideias que lhe são caras? Certamente o quereria.
O homem é uma merda, um esterco, um animal. Um animal que sabia que os defensores dos animais, quais inimigos das touradas, não matariam, antes alimentariam e tratariam para o resto da vida.
O animal ganhou. A civilização ofendida paga-lhe o preço que ele queria lhe fosse pago. A civilização ofendida oferece-lhe primeiras páginas, fotografias, telejornais, dá-lhe mais publicidade que às macacas do cinema em cuecas ou os bonecos do desporto em anúncios de lâminas de barbear.
O castigo do animal, se houvesse verdadeira justiça, seria o de passar os próximos cinquenta anos, ou mais, num buraco qualquer em que, sozinho, às escuras, num silêncio de jazigo, impedido de se suicidar, vivesse sem ver uma só das suas aldrabices assassinas ser citada, sem que uma frase sua fosse escrita num jornal, sem que o seu focinho fosse lembrado, esquecido, ignorado, como se não tivesse existido.
Ao contrário, a sociedade que ele abomina e mata faz-lhe a maior das propagandas. As suas “ideias” são lançadas, como marés de trampa, sobre todos nós, isto é, a sociedade oferece-lhe, de mão beijada, o efeito que ele queria obter com os seus crimes.
A besta deve estar contente. Cairam na esparrela! Algures, pensa ele e com razão, é provável que haja outros a ser influenciados pelo seu miserável “pensamento”. Consolação, “justificação”, para o que fez e que outro objectivo não podia ter.
A civilização dos “princípios”, dos “direitos”, das “justificações sociais”, não tem por princípios, direitos ou justificações sociais a mais leve consideração. Em nome deles, e de coisas a que chama “liberdade de informação”, dá-lhe o que ele exigiu que lhe fosse dado: nome, celebridade, adeptos.
Um dia, quem cá estiver, verá este monte de merda a passear nas ruas, cumprida a pena, engordado e bem tratado pela civilização que condenou à morte. A trampa ganhou.
18.4.12
António Borges de Carvalho