Selvajarias
O jardim do Marquês de Marialva, no Campo Pequeno (antigo Largo Dr. Afonso Pena) está, há anos e anos, votado ao mais repugnante abandono. Passam vereações e Presidentes, Juntas de esquerda e de direita, e as árvores sem ser podadas, a relva comida por ervas daninhas, os caminhos cheios de buracos, caca de cão por todos os lados, “homelesses” nas paragens dos autocarros, o parque infantil um horror, o parque de jogos esburacado… etc. etc.
Acresce a esta brilhante situação a selvajaria terceiro-mundista do estacionamento, a Polícia que não faz nada porque é teritório da EMEL, a Emel que não faz nada porque é teritório da Polícia, os passeios com as pedras soltas, onde ainda as há, as valetas entupidas, as monumentais poças de água quando chove, o ecoponto que é um ecoporco, e por aí fora.
Vai daí, o excelentíssimo vereador Prôa, rapa da prôa e informa que vai tudo ser arranjado a expensas da sociedade que reconstruiu a Praça de Touros, como compensação dos estragos motivados pelas obras.
À primeira vista, tudo bem.
Só que os tais estragos são orçados em 738 mil euros (150 mil contos) e as obras em 824 mil (165 mil contos).
Ora bem:
a) as obras só destruiram uma pequena parte do jardim, o resto era um caos, mesmo sem as obras;
b) 165 mil contos dão para… em matéria de jardins… nem queiram saber.
Nestas coisas, como em muitas outras, honny soit qui mal y pense. Não deixa de parecer estranho:
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Que o promotor da Praça de Touros aceita responsabilidades que, evidentemente, lhe não cabem;
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Que tire do bolso uma tão importante verba (sete contos e quinhentos por metro quadrado! – irão plantar relva de ouro?), só para reconstruir uma coisa que não estragou e cuja ausência de manutenção não é da sua responsabilidade.
Mas… tudo bem. Se o jardim ficar bonito, tudo bem. Se a Polícia, e a EMEL, passarem a ter um mínimo de critério para regular o estacionamento, óptimo. Se, a partir da reconstrução, alguém fizer manutenção, encantado. Se as senhoras, meninas e demais selvagens, proprietários de canídeos, forem multados pelos xixis e cócós dos ditos e se virem obrigados a mandá-los para a quinta ou para o matadouro, maravilha.
Só que, ou me engano muito ou nada disto vai acontecer. Com a abertura das novas facilities vai dar-se a total “selvagização” de toda a área. Os polícias vão sumir-se da zona ao fim de três dias, os jardineiros da Câmara vão aparecer como sempre, de seis em seis meses. A malta vai pôr os carros, como aconteceu no Colombo e acontece no Carte Inglês, em tudo quanto é sítio menos no parque de estacionamento. Uma coisa que podia ser um valor acrescentado para a cidade, vai ser uma bagunça digna de um bazar turco.
E lá se foram os milhões. Continuaremos, selvagens e felizes. Como sempre.
Muito gostava de me enganar!
António Borges de Carvalho