AD HOMINEM?
O IRRITADO tem sido espicaçado por vários críticos para se pronunciar sobre o Professor António Castelo Branco Borges, bem como sobre o “caso” Dias Loureiro.
Dizem que o IRRITADO só critica o socialismo em geral e o Pinto de Sousa em particular, que é um PPD invetrerado, que está feito com o governo, que não não é “independente”, para só citar os que se lhe dirigem em termos minimamente cordatos.
É facto que o IRRITADO, como já explicou várias vezes, não é independente. Tem ideias, procura ser coerente com elas e orgulha-se disso. Não é independente delas. Em relação a partidos, sim, é independente. Em relação ao governo também, ainda que considere que, com as suas fraquezas, este governo é, de longe, o melhor que a democracia noa pode dar, aqui e agora.
Posto isto, vamos ao Professor Borges.
Não tenho a honra de conhecer o dito senhor. Mas, de longa data, tenho tido oportunidade de conhecer as suas ideias e de ter algumas noções sobre a sua carreira e a sua pessoa. Foi capa das mais prestigiadas revistas de gestão deste mundo. Foi professor, depois reitor da mais célebre escola de gestão da Europa, tem altíssima “cotação” internacional, está muito acima da esmagadora maioria dos seus pares, desempenhou cargos ao alcance de poucos, e até, imagine-se, deu com a porta na cara da dona Christine Lagarde quando esta o chateou.
A alcateia anda para aí aos urros, que o homem quer baixar os salários às pessoas, que quer pôr tudo a morrer de fome, que quer transformar os portugueses em chineses, sem segurança social, sem saude pública, sem nada, que é um factotum do mais tenebroso capital, etc. e tal.
Porquê? Porque o homem disse a seguinte frase: “A diminuição de salários não é uma política, é uma urgência, uma emergência, não pode ser de maneira nenhuma uma perspectiva de futuro”.
Diga-se que o Professor António Borges não tem um “talento” político por aí além, isto é, diz o que pensa, não o que é mais conveniente a cada momento. Não fraseia o que diz de forma a que não possam pegar-lhe na palavra e torcê-la “à maneira”, a fim de pôr a malta a acreditar que ele disse o que não disse, aliás em nítida demonstração do que é uma das mais importantes qualidades do nosso “jornalismo” e do comentarismo do correcto: torcer a verdade sempre que tal seja excitante, trepidante, e venda jornais.
Leia-se o que o Professor disse: que a descida dos salários não é coisa que se deva encarar como política a seguir mas que, na situação de emergência em que a sociedade portuguesa se encontra, acabará por, inevitavelmente, acontecer. Quando a oferta é superior à procura, os preços baixam. Negá-lo seria, mais do que irrealista, estúpido. Disse mais. Disse que não é coisa que se encare como “perspectiva de futuro”, o que quer dizer que não defende baixas de salários para além do que já houve (no Estado), bem pelo contrário, considera que vão acontecer dado o estado das coisas, mas que não são nem podem ser coisa do Estado.
Compare-se o que o senhor disse com o que disseram que ele disse. Depois, digam-me quem tem razão: o Professor Borges ou os jornalistas, os comentadores ou o inevitável Presidente Cavaco.
Agora o Dias Loureiro.
Que se saiba, veio dos confins da província para Coimbra, tirou lá um cursito e acabou por desaguar em Lisboa, ministro do Doutor Cavaco sabe-se lá porquê. Rapaz esperto, talentoso, depressa se deslumbrou com a cidade, com esta mole de gente e de oportunidades, conheceu este mundo e o outro, movimentou-se por aí, não deixou má fama como ministro e, passado o governo, lançou-se a explorar as relações que tinha sabido cultivar, movimentando-se com à vontade em mundos em princípio mais ou menos vedados a tipos como ele. Muita gente assistiu à sua ascensão, muita gente disse “este gajo um dia espalha-se”, gente que o tolerava com bonomia q.b., com simpatia em doses, às vezes com amizade. Espalhou-se mesmo. Meteu-se na geringonça do BPN e da SLN, fez umas operações pouco claras ou muito escuras, arranjou um alçapão na casa de banho para esconder papéis e, como é sabido, acabou por ser corrido do Conselho de Estado e por andar por aí, mais ou menos à socapa, a ver se não dão por ele.
Muita gente se interroga porque há-de ser o Oliveira o bode expiatório de tudo e mais alguma coisa, e porque ninguém toca no enxame que por lá andava, diz-se com foros de verdade, a sacar à tripa forra.
E não é tudo. Quem vai às canelas do Constâncio, que tudo patrocinou? Quem se atira ao Teixeira dos Santos que, só à conta do BPN, fabricou o maior buraco público de que há memória? E o Pinto de Sousa, não tem nada com o assunto?
Dias Loureiro deveria ser investigado e, com ele, essa malta toda. Nem todos serão culpados. Mas alguém, Dias Loureiro possivelmente incluído, devia pagar com a liberdade os milhares de milhões que desapareceram do orçamento sem mais nem menos.
Para os que andam a chatear o IRRITADO por causa dos senhores acima referidos, aqui fica, preto no branco, o que o IRRITADO pensa.
Não estarão de acordo, mas com o vosso acordo o IRRITADO não conta, nem dele precisa.
Boa noite.
8.6.12, às 00.30
António Borges de Carvalho