SINAIS DE BOM SENSO
Sem medo do “escândalo”, o PM japonês mandou reactivar duas centrais nucleares. As boas almas, os apóstolos da involução e da ruína, devem estar por aí, inchados de indignação e ódio.
E, no entanto, o homem tem carradas de razão. A sua obrigação como governante é dar aos seus cidadãos e à sua economia elementos de desenvolvimento, e deixar para trás os escravos da demagogia e do medo. A sua atitude é tão mais louvável quanto o Japão foi teatro, há bem pouco, de um desastre natural de gigantescas consequências, entre as quais um acidente nuclear altamente perigoso.
À excepção de Chernobyl – vítima da incompetência totalitária do socialismo real(a) – não há memória, em sessenta anos de existência, de qualquer acidente que, proveniente do nuclear e não da Natureza, tivesse tido qualquer importância para a humanidade ou para o Planeta, cuja “salvação” faz correr rios de tinta e mares de dinheiro. Mesmo Fucoxima, com os seus horrores, não consta que tenha custado a vida fosse a quem fosse.
Se a estes factos acrescentarmos que:
- A energia nuclear é a mais limpa de todas as energias, de tal maneira que até os chamados ecologistas já não conseguem deixar de o reconhecer;
- A energia nuclear é a mais viável de todas, em termos de custos/benefícios;
- A tecnologia nuclear tem conhecido avanços que tornam a produção nuclear ainda mais fiável e mais barata;
- O problema dos lixos nucleares está razoavelmente resolvido, e novos processos estão em curso de desenvolvimento,
então teremos que não é inteligente, nem aceitável, a luta de tanta gente contra esta forma de obtenção de energia. Bem pelo contrário, é quase criminosa. Privar a humanidade de energia barata, fiável, constante, praticamente inesgotável, é o quê?
Por cá - num país que até tem matéria-prima com fartura - depois de o “socialismo democrático” ter, solenemente, declarado que o nuclear “não está na agenda do governo”, depois de o mesmo governo se ter recusado a, sequer, discutir uma proposta de construção e exploração de uma central, a custos privados (sem PPP’s!), depois de se ter endividado o país por gerações para encher a paisagem de moinhos de vento e gadgets do estilo, de produção intermitente e a exigir o trabalho de centrais térmicas, continua a haver almas que se regozijam com o “avanço” do país em matéria de “energias renováveis”.
Em matéria energética, perdemos pelo menos cinco décadas. Agora, mergulhados na crise, sem um tostão disponível, preparamo-nos para perder mais umas tantas. Isto enquanto a chamada Europa trabalha na melhoria dos processos tecnológicos e lança projectos de novas centrais. E, se falarmos dos BRICS, veremos do que a casa gasta, a inteligência a preparar o futuro.
É evidente que, dado o estado das coisas, não se pode pensar no assunto. E, se se pensasse, haveria multidões histéricas a protestar, a junta de freguesia de Santa Pulquéria metia duas providências cautelares e a câmara de Castro Querelas acusaria o governo dos mais nefandos crimes. Sem falar, é claro, da chamada “discussão pública”, dos debates, populares e parlamentares, das comissões de inquérito e de mais não sei quantas barbaridades.
O que vale é que, entretanto, há um ministério que manda tirar as gravatas para poupar no ar condicionado, o que nos enche de esperança, não é? Como no Japão, por cá também há bom senso. Hi hi.
18.6.12
António Borges de Carvalho
(a) Cabe aqui lembrar a inesquecível chegada do Cunhal a Lisboa, vindo da Ucrânia, no auge da crise de Chernobyl. Nas doutas palavras do poderoso líder, não havia problema nenhum, só uma ligeira avaria do reactor. O cônsul de Portugal lá no sítio era um alarmista ao serviço do imperialismo, porque tinha aconselhado os estudantes portugueses que por lá andavam a voltar quanto antes para casa!