O RELATÓRIO
Uma das muitas estatais inutilidades em que estamos mergulhados sem haja sinal de alguém, seja quem for, querer acabar com elas, é a chamada ERC, dirigida por Charlemagne, isto é, Carlos Magno em versão almadense.
A coisa lá vai vivendo e, às vezes, há quem queira pô-la a fazer alguma coisa. Foi o que aconteceu com o caso Relvas contra umas fulanas do “Público”.
Como o relatório emitido pela distinta coisa não acusou o Relvas de qualquer hediondo crime, erguem-se abalizadas vozes, às catadupas, contra o Carlos Magno, contra a ERC, contra a “governamentalização” da nobre instituição, a partidarização dos “reguladores”, o diabo a quatro. O relatório é uma bambochata, os tipos do PPD lá metidos, a começar pelo Magno, estão “feitos” com o governo, etc. e tal.
Haja alguém que defenda o relatório.
Vejamos.
As tipas do “Público” não podem provar as acusações. O Relvas não pode provar que as acusações das tipas são falsas. As tipas, que começaram por não publicar o que o Relvas não queria que se publicasse, acusam o Relvas de não querer que elas publicassem o que não publicaram, isto sem ceder a nenhumas pressões. O Relvas foi dando uma no cravo outra na ferradura, meteu os pés pelas mãos, etc. As tipas também. A heroína despediu-se ou foi despedida. Estão a perceber? Eu também não.
No meio desta pastelada toda, o relatório, afinal, é a única coisa decente. Que diz ele? Que o Relvas se portou pessimamente, que as tipas mais ou menos. O que o Relvas fez, ou terá feito, não foi manipulação tentada, ou “pressão”, quanto mais não seja por falta de provas. Nesta ordem de ideias, a ERC não tem jurisdição na matéria.
Tudo isto está certo. O que a ERC fez foi, primeiro, classificar as investidas do Relvas de forma dura e claríssima. Depois, considerar que não tinha competência estatutária para tomar fosse que atitude fosse. Finalmente enviou o relatório para a única esfera competente: a política.
É na esfera política que está o problema. Era na esfera política que devia ter havido decisões.
Quando Passos Coelho se atravessou a defender o seu importante amigo – o que, como amigo, lhe fica bem – cometeu um erro colossal.
É que, no meio da pessegada, uma só atitude certa haveria: convencer o Relvas a tomar a decisão “pessoal” de sair do governo. Compreende-se que, por muitas razões, fosse difícil para ambos. Mas não havia outra coisa a fazer. As consequências de o manter vão ver-se a médio prazo, e vão prejudiciais para o governo e para todos nós.
Enfim, o que está feito está feito. Mas não me venham dizer que a culpa é do relatório. A ERC portou-se bem, fez o que podia, mesmo sabendo, sem margem de dúvida, a tempestade que a seguir viria, o gozo dos comentadores, as tremendas acusações dos tipos do PS – os mais adestrados manipuladores de opinião de todo o mundo civilizado – a indignação das almas castas e puras sempre prontas a fomentar a cizânia.
Nada disto quer dizer que o IRRITADO apoie, agora, a existência da distinta organização que dá pelo nome de ERC. Ela, como a como tantas outras das suas congéneres, nunca devia ter nascido.
23.6.12
António Borges de Carvalho