COM CÃO OU SEM ELE
Uma ilustre senhora, nada menos que presidente da câmara municipal de Silves e antiga chefe do PSD local, andou ontem nos jornais a lamentar a ausência do nosso estimado Álvaro na assinatura de um contrato de desenvolvimento turístico – 300 milhões de investimento na página xis, 250 na página ipslon, 2.000 postos de trabalho na página xis, mil e tal na outra. Enorme iniciativa, gigantesco interesse municipal e nacional.
No tempo do exilado do seizième estaria lá o primeiro-ministro, o Jamais, mais 3 ministros, 14 secretários de Estado, 80 assessores, 22 secretárias, uma sala cheia, televisões, rádios, jornais, uma alegria, um nunca acabar de cumprimentos e salamaleques, um esplendor, discursos em barda, elogios à presidente e à vereação, 5 novas auto estradas e dois aeroportos anunciados ao mundo, uma jornada de gala, um triunfo!
Hoje em dia, ninguém. A senhora viu-se obrigada a fazer queixa à Lusa, ou equivalente, para ter alguma notoriedade nacional. Que vergonha, meus senhores!
Os empresários envolvidos no projecto, grandes promotores do desenvolvimento da Pátria, eram, são, nada mais nada menos que os brilhantes chefes de uma empresa chamada Galilei, sucessora da célebre SLN, proprietária do não menos célebre BPN.
Muito bem.
Por acaso, na véspera, os ditos senhores, bem conhecidos na nossa praça, tinham dito no Parlamento que, ao contrário do que se diz por aí, só devem ao Estado uns míseros 170 milhões, mais uns tantos por aí. Pode perguntar-se onde vão desencantar os 300 milhões para o projecto de Silves numa altura de crédito escasso e tendo a ficha de informações que não devem deixar de ter. mas isto são detalhes sem grande importância.
Agora, pensemos nas consequências da ausência do estimado Álvaro na cerimónia.
Como não pôs lá os pés, anda a ser criticado pela presidente, pelos jornais e outros que tais.
E se lá tivesse ido? Imagine-se a onda de contestação, o Tavares, o Pacheco, o Seguro, o Marcelo, o Jerónimo, mais umas centenas de fulanos preocupados com a honra do país, dos povos, da própria “Europa”, zurziriam o Álvaro com as suas abalizadas opiniões: o governo está feito com a Galilei, com o BPN, com as falcatruas, as corrupções, as off-shores, o caneco. O ministro tem que cair, tem que cair já, nem mais um minuto no poder! O louça exigiria a imediata formação de uma comissão de inquérito, a Roseta faria queixa à Procuradoria, o sindicato dos juízes poria o caso no Eurojust, e por aí fora, etc. e tal. A coisa dava para duas semanas a vender jornais.
Com cão ou sem cão, tanto faz.
24.6.12
António Borges de Carvalho