5 DE OUTUBRO
Perante cerca de vinte assistentes e alguns passantes, comemorou-se com o aparato e a solenidade do costume mais um ano da substituição do Rei por uma data de Presidentes.
O actual, honra lhe seja, proferiu um discurso sem qualquer sentido visível ou imaginável a não ser para especialistas em comentários, que são muitos e, diz-se, bem pagos.
Instaurada a primeira República, os seus heróis desataram a matar-se uns aos outros, a prender os sindicalistas, a pôr umas bombas aqui e ali, a meter-nos numa guerra que não era nossa com a desculpa de estar a defender o Império, e a arruinar o país. Durante a segunda, os sobreviventes da primeira dedicaram-se a ir comemorá-la pondo umas flores na estátua do António José de Almeida sob o olhar divertido dos Pides, filhos dilectos e sustentáculos armados da nova república. Diga-se que, no que ao Império de refere, não havia diferença entre os da primeira e os da segunda. Veio a terceira e, preze-se a liberdade política recuperada, vamos, calma e desinteressadamente, a caminho do quarto resgate, vivendo (mal) à custa de terceiros até ao dia em que seja preciso pagar o que devemos. A grande diferença é que os novos (velhos em relação à primeira e opositores da segunda) despacharam à matroca o tal Império. De resto, como as bombas deixaram de estar na moda, os herdeiros da primeira dedicam-se só à sua tradicional tarefa: arruinar-nos.
Não admira, por isso, que o Presidente nem uma palavra dirigisse ao 5 de Outubro propriamente dito e se tenha entretido com inanidades por dever de protocolo.
A malta, essa, não quis saber. 5 de Outubro? O que é isso?
6.10.21