DESCOBERTA ESTIVAL
O IRRITADO há muito não se metia à estrada para ir até Sesimbra, antiga piscosa terra, no dizer do poeta, hoje bosque de cimento. Enfim, podia ser pior.
No regresso, uma agradável surpresa: numa das rotundas da estrada - há-as dúzias - surge uma tabuleta a dizer: A33 – Monte da Caparica.
O IRRITADO não resistiu e, passados uns quinze ou vinte quilómetros e incontáveis portagens, chegava ao seu destino. Terá encontrado pelo caminho para aí uns dez carros, isto contando com os dois sentidos. Uma maravilha, acelerar à vontade e não ter vivalma a chatear!
Pelo caminho foi pensando: se isto vai dar, para um lado, ao Monte da Caparica, onde levará em sentido contrário?: a Faro?, a Bragança?, a Elvas?, a Leiria? Nada disso. Em sentido contrário, a A33 leva o feliz cidadão até Coina!
Estamos assim perante uma importante infraestrutura, que nos conduz da soberba metrópole de Coina, passando pela enorme cidade da Quinta do Conde, pelo complexo de indústria pesada da Aroeira e por outros progressivos aglomerados urbanos, industriais, turísticos e patrimoniais cujo nome a ignorância e a fraca memória do IRRITADO não conseguiram fixar.
Que felicidade! Que orgulho pátrio se sente ao percorrer tão importante via! Que profunda gratidão enche os nossos corações quando pensamos no Homem que, qual Duarte Pacheco, qual Fontes Pereira de Melo, quase diria qual Vasco da Gama, imaginou e ordenou a construção desta incontornável e indispensável obra!
Falamos, como já devem ter percebido, falar desse inigualável herói que se chama “engenheiro” Pinto de Sousa, modestamente conhecido por “Sócrates”, hoje refugiado em Paris, alto merecedor dos nossos mais profundos sentimentos e homenagens!
Postas as coisas na linguagem dos incréus e dos ingratos, trata-se de mais um elefante branco, dos muitos que o fulano por cá deixou, para que quem cá ficasse fechasse a porta enquanto ele come umas coquilles na Tour d’Argent. Como é possível, uma autoestrada de Coina para a Caparica? Não é coisa que se explique, a não ser pela teoria da conspiração, isto é, da comissão ou comissões.
No fundo, uma pequena imagem das contas por pagar que o homem por cá deixou. Coisa de somenos, gota de água no oceano da nossa desgraça.
4.8.12
António Borges de Carvalho