ESPANHOLADAS
Calcule-se que, segundo o jornal privado chamado “Público”, “Há alunos de “Espanhol” que vão ser obrigados a aprender Francês“.
Pus espanhol entre aspas por duas razões que pouco ocorrem às pessoas mas são importantes.
A primeira: tal língua não existe. Há várias línguas espanholas, sendo o castelhano a que como tal é referida. Há o basco, o catalão, o galaico-português… tudo línguas espanholas.
A segunda: mesmo na floresta de horrores do Acordo Ortográfico, o nome das línguas, em português, não se escreve com maiúscula. Não somos ingleses…
A grande questão é a de saber por que raio de carga de água há-de um português perder tempo a aprender castelhano.
Em tempos que já lá vão, era comum aos portugueses, machões e marialvas empedernidos, aprender castelhano com as espanholas. Dado o aumento exponencial da oferta local, este sistema deixou de ser utilizado com a mesma intensidade. Mas, como a fronteira se abriu e os jogadores de futebol passaram a ser espanhóis ou sul-americanos falantes de castelhano, a convivência com tal e tão desagradável língua passou a proporcionar contactos bem mais frequentes que os das antigas espanholas. Por outro lado, é sabido que qualquer português minimamente esperto percebe, sem qualquer necessidade de aprendizagem, entre sessenta e cem por cento do que os espanhóis dizem em castelhano. Quem precisar entra um pouco mais fundo na coisa, sem gastar tempo e dinheiro em inutilidades escolares.
Não sei se há ou se não há criancinhas portuguesas que, por alguma tenebrosa decisão do poder, sejam “obrigadas” a mudar do castelhano para o francês. Se há, ainda bem. Aprenderão uma coisa útil, em vez de gastar as meninges a estudar uma coisa que só não sabem se não quiserem.
É claro que a embaixada da federação espanhola está, ao que se diz, muito inquieta com esta história e até sugere reciprocidade, isto é, o corte do ensino de português na federação a que Castela preside. Patética preocupação, já que por lá, os cidadãos não percebem patavina do que nós dizemos (como dificilmente percebem seja que língua for), se quiserem entrar no nosso mundo é natural que precisem de aprender alguma coisa.
Dado o exposto, o IRRITADO informa que, a ser verdade esta notícia, acha muito bem a decisão de substituir o espanhol pelo francês, o alemão, o russo, o chinês, ou alguma coisa que possa vir a ser útil aos portugueses.
4.8.12
António Borges de Carvalho