FRUTOS DA MESMA ÁRVORE
No tão solene momento em que se avizinha o abandono de funções – que pena! – do camarada Louça, mal pareceria se o IRRITADO não dedicasse uns minutos ao assunto.
Para quem quiser ficar bem informado sobre tão importante acontecimento, o IRRITADO recomenda a leitura do jornal privado chamado “Público”, que hoje presenteou a Nação com um relambório “histórico/justificativo/laudatório” digno de nota e escrito por uma senhora que muito sabe sobre a sua adorada extrema-esquerda.
Nas origens da nobre instituição que dá pelo nome de BE, estão, como não podia deixar de ser, as mais nobres tradições do bolchevismo, ainda hoje, na sua inata pureza, orgulhosamente representadas pelo PC.
Os desvios à ortodoxia, tão execrados pelo camarada Jerónimo, levaram, pela esquerda, à criação da nobre agremiação da UDP, pimpolho maoista/enverhoxista que, nos idos de setenta e oitenta, defendia com pundonor os progressos alcançados pela Albânia, país que, para além se ser o mais miserável da Europa, preconizava, seguido pela UDP, a morte indiscriminada de tudo o que cheirasse a burguesia ou a lumpen. PTA, PTA!, ululavam os udepistas, saudando, num mar de bandeirinhas, hordas esfarrapadas de “sindicalistas” do partido do trabalho da Albânia, em doce manifestação de solidariedade proletária a que o IRRITADO teve a subida honra de assistir.
Ficou na memória de todos a prestação parlamentar e não só de um capitão loiro, antigo ajudante de campo do general Kaulza e, diz-se, de ascendência germânica, com a casaca virada, Tomé de seu nome.
Outro comportamento transviado foi o do camarada Louça, o qual resolveu adoptar a filosofia de um tal Trotsky, figura desviada do leninismo em boa hora liquidado pelos ex-camaradas e, por conseguinte, saído de cena. O Louça fundou novo partido, o PSR, e rodeou-se de um escol de socialistas revolucionários. Sob a sua douta batuta, andaram todos anos e anos a apanhar bonés nas margens da política.
Mais desviante ainda foi a saída, pela direita segundo o Jerónimo, do grupo comunista que se intitulou Política XXI. O seu principal fundador foi o já falecido Miguel Portas que, em linguagem muito cara aos ortodoxos, traiu a classe a que pertencia, burguesa, latifundiária e intelectual, para se dedicar a tempo inteiro, com a dignidade da sua origem, à salvação da humanidade.
Toda esta gente mandou o PC às urtigas. Isto, é claro, sem prejuízo do marxismo, antes lhe dando interpretações mais livres que as determinadas pelo abandonado Jerónimo.
Meras questões de família, que guardam o “sangue” e não prejudicam os objectivos comuns.
Parêntessis:
Não faltará quem diga que o IRRITADO se esquece, de propósito, dos inúmeros políticos também pertenceram à familória e que a abandonaram. Não é a mesma coisa. Estes saltaram o muro da insensatez e do ódio. O que, confessamente, não aconteceu aos que vieram a formar o Bloco de Esquerda, e o lideram.
Fim de parentessis.
À falta de melhor, isto é, de ideias que vão para além das diversas nuances da cartilha, esta malta adaptou-se à democracia, certamente porque, não estando os tempos para revolucionarismos, achou que mais valia destruí-la por dentro que atacá-la por fora. Adoptou as causas fracturantes: a propaganda do aborto e o acendrado proselitismo dos defeitos sexuais, por exemplo.
Isto, segundo o “Público”, para fundar uma nova “democracia”, desta feita liderada por minorias em vez de maiorias, atenta à rua e não às urnas, feita de barulho gratia barulho. Tudo, pensa o IRRITADO, com o insigne objectivo de fazer emergir da minoritária babel a vanguarda iluminada que há-de liderar os portugueses até às alturas do “homem novo” e dos “amanhãs que cantam”.
Nova liderança? Porquê?
Diz a agremiação que se trata de renovar, já que as lideranças querem-se a prazo. Deve ser por isso que o camarada Louça anda nisto há trinta anos.
Diz também que há que dar paridade à tal coisa. Paridade, no cérebro dos tipos, quer dizer um homem e uma mulher. Não quer dizer um intelectual e um operário, um professor e um aluno, um do Norte e um do sul, ou coisa do género. Perguntar-se-á: então não podia ser duas mulheres? Somos todos iguais ou quê? Não, meus senhores, duas mulheres jamais, que isto de igualdade, para esta gente, tem a ver com genitais, não com competências.
Mesmo assim, paridade relativa. É que o terceiro – o líder parlamentar – vai ser um homem. Reconhecendo que é difícil, num leque de três, haver paridade socialista, o IRRITADO atrever-se-ia a sugerir que fossem quatro os contemplados: dois homens e duas mulheres. Ou cinco, dois homens, duas mulheres, e um transsexual. Ou seis, dois homens, duas mulheres, um gay e uma lésbica. Qualquer destas soluções traria muito mais coerência à expressão do “pensamento” do Bloco.
As coisas, no entanto, são o que são. Tinham que ser três, um da UDP, outro do PSR, outro da Política XXI (os independentes não contam).
Donde se conclui que a única preocupação é a de evitar que o BE se transforme, à vista de todos, naquilo que, afinal, nunca deixou ou deixará de ser: um saco de gatos. A grude daquela coisa é o poder parlamentar. Mais nada. Ou há lugares ou vai cada um para seu lado.
20.8.12
António Borges de Carvalho