DEMAGOGIA, POPULISMO E CONTAS DE SOMIR
Afinal o que é o serviço público de televisão?
Será o que a RTP fornece ao respeitável público há anos e anos, futebol, concursos, telenovelas, filmes de pancadaria, notícias, publicidade, etc.? É ou não é exactamente o mesmo que fazem a SIC e a TVI? Então são todas de “serviço público”, ou nenhuma o é? O que distingue a RTP das outras?
O que as distingue é que a SIC e a TVI correm por conta de quem as tem. Se dão lucro é com elas, se não dão o problema é delas. Não pedem nada a ninguém. A RTP, para o mesmo efeito, custa ao erário público centenas de milhões de euros por ano (este ano parece que já lá vão uns quinhentos…) e ainda recebe o imposto da factura energética, mais as receitas da publicidade.
Para quê? Para nos dar mais do mesmo e andar, regurgitante de subsídios e impostos, a concorrer com as outras no mercado da publicidade?
Faz sentido? Faz sim senhor, pelo menos na douta opinião do PC, do BE, do PS e, de certa forma, até do CDS. Na de qualquer cidadão minimamente responsável e modicamente inteligente, não faz sentido de espécie nenhuma.
OIRRITADO tem vindo a condenar a privatização da coisa. Não porque seja contra as privatizações. Nem por sombras. O IRRITADO defende a pura e simples extinção do monstro, a venda do património, o pessoal para a reforma ou a rua com a indemnização da lei, a RTP Internacional e a RTP África contratadas com terceiros, contratos decentes, e pronto. Pendurice crónica nunca mais!
Olhe-se o que tem sido a demagogia, o populismo barato, a raiva, desencadeados por uma entrevista de um senhor que trabalha para o governo e defende a extinção da RTP2 e a concessão da RTP1 a privados.
“Todos os países têm serviço público de televisão”, dizia ontem um tipo do PC a quem a SIC Notícias dá abrigo não se sabe bem porquê. Terão, e se calhar custa-lhes uma fortuna. A extinção da RTP, a dar-se, poria Portugal à frente deles todos, já que a extinção destes cancros se vai dar por todo o lado, mais tarde ou mais cedo, quer se queira quer não. Se o fizéssemos, seria a primeira vez desde os descobrimentos em que estaríamos à frente de todos!
De resto, a coisa (a hipótese Borges) tem merecido os mais soeses insultos, crime, roubo, abuso, o caneco a quatro.
Os trapalhões do costume vociferavam, até ontem, contra a privatização. Merecem o crédito que merecem já que, sendo tais parlapatões contra todas as privatizações (tantos ões!), estariam sempre contra. Agora, que, segundo Borges, não vai haver privatização, são contra a concessão da coisa a terceiros, pagos com o imposto habitual, mas sem as centenas e centenas de milhões de “indemnizações compensatórias” da RTP (para compensar o quê?). Até o CDS, com um dos ataques de socialismo primário que frequentemente o assolam, veio, ou esquivar-se ou mandar à SIC um político hábil em dislates ditos com o ar mais sério deste mundo: o senhor Ribeiro e Castro.
Enfim, a luta anti-Borges é o que está a dar. Bem fez o governo em mandá-lo dar a cara. Olhem se fosse o Relvas!
Veja-se as contas que a Impresa, inimiga figadal seja de que medida for que altere o status quo da RTP, mandou fazer e espalha aos quatro ventos, na SIC, no “Expresso” e nos papalvos que as tomam por boas. Assim: o feliz concessionário que, na opinião dos calculadores da Impresa, ao contrário do que disse o Borges, não pagará nada ao Estado, vai receber 150 milhões do imposto, mais 50 milhões de publicidade, 200 milhões ao todo. Como vai gastar 180 milhões, terá um lucro garantido de 20 milhões por ano. Um raciocínio elementar, que os órgãos de “informação” se apressaram a tomar por bom. Falta só explicar onde está a garantia de que o imposto atingirá os 150 milhões, como se pode atribuir 50 milhões à eventual publicidade e como se sabe que o concessionário vai gastar 180 milhões e não 124 ou 239. Pequenos pormenores a que ninguém parece ligar.
Eis como a aldrabice pura e dura passa a verdade, se for bem e muito repetida, como diria, com carradas de razão, o camarada Vladimir Ilitch Ulianov.
O IRRITADO volta à sua. Pancadaria por pancadaria, mais valia que o governo acabasse com o cancro de uma vez por todas. Levar na touca, leva de qualquer maneira. Já agora, era de aproveitar. Mas está lá o CDS, o que é uma chatice.
25.8.12
António Borges de Carvalho