ESCOLAS FASCISTAS
O senhor Aníbal Cavaco Silva, hoje, entre outras coisas, Professor Doutor dos propriamente ditos, andou na primária lá para os Algarves O secundário foi passado numa escola profissional. Depois, numa coisa que, se a memória me não falha, se chamava Instituto Comercial. Já homenzinho, ei-lo na universidade, depois a doutorar-se em boa escola britânica, e pronto. Daí catedrático. É o que se sabe.
Isto quer dizer que, tendo frequentado um curso profissional, ninguém lhe cortou as pernas quando resolveu, como tantos outros, seguir em frente. Se não tivesse querido fazê-lo, teria um profissão tão nobre quanto tantas outras: contabilista.
É claro que tudo isto se passava no tempo da ditadura. O senhor Cavaco Silva, ora Professor catedrático, não era “filho do regime”, não tinha nada a ver com a União Nacional, não tinha cunhas nem padrinhos, não era um “privilegiado”. Era um fulano oriundo da pequena burguesia da província e, que se saiba, sem orientações políticas.
Veio a democracia e, anquilosada a sociedade com uma interpretação canhestra do tenebroso princípio da “igualdade”, acabou com as escolas técnicas, assim cortando as pernas a muita gente, gente que quereria, se pudesse, entrar na vida profissional aos dezoito anos. Pelo contrário, viu-se reduzida, ou a não ter emprego que se visse, ou a trabalhar sem qualificações, ou a meter-se em universidades e “universidades” e a tirar cursos que não conferem qualquer hipótese de valorizar o trabalho de cada um, isto se o aranjar.
Quase quarenta anos passados, regurgitando o país de diplomados maioritariamente falsos - doutores até Badajoz -, às novas gerações depara-se uma gigantesca crise de desemprego, em que os tais doutores não têm, nem emprego “compatível”, nem qualificações para exercer outras quaisquer profissões, sendo estas tidos por “menores”, pelo menos na opinião daqueles que berram pela “dignificação do trabalho”.
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De repente, o governo descobre (irá a tempo?) que é preciso criar escolas técnicas.
Em vez de saudar a iniciativa, as forças ditas “progressistas” entram em histeria: trata-se de escolas “salazarentas”, do regresso ao “fascismo”, de mais uma investida da ideologia “neoliberal”, de um atentado à “igualdade”, o diabo a quatro.
É assim que o socialismo corta as pernas à sociedade ao mesmo tempo que diz querer melhorá-la.
À atenção das novas gerações, para que percebam o problema e saibam exigir em conformidade.
5.9.12
António Borges de Carvalho