AUSTERIDADE
Como os senhores e as senhoras do Tribunal Constitucional melhor que ninguém sabiam, a sua douta sentença, ilegalizando o que estava, provocaria que outra coisa viesse, com igual ou maior valor fiscal.
Toda a gente percebeu isto, incluindo o inigualável Mário Soares que deu largas à sua habitual clarividência ao dizer que “como sempre” é “contra a austeridade”.
Cinicamente, finge que não percebe e aproveita para a sua propagandasinha. Vale-lhe a fraca memória da maralha. Ninguém se lembra já da austeridade soarista.
É bom lembrar:
Quem lançou impostos retroactivos?
Quem nos tirou os cartões de crédito?
Quem deixou, anos a fio, as prateleiras dos supermercados vazias de qualquer dos produtos mais desejados?
Quem chegou ao ponto de proibir concertos, como o do Iglésias, para não deixar sair divisas?
Quem meteu cá o FMI?
Quem foi fiel ao programa do FMI?
Quem estrangulou o crédito?
Quem pagou os subsídios com títulos do tesouro que, uma vez vencidos, valiam metade?
Quem cortou salários a toda a gente através de brutais desvalorizações do Escudo?
Quem impediu, por via fiscal, as viagens dos portugueses?
Assim, de repente e a quente (ouvi o homem há cinco minutos), é o que ocorre. Quem quiser ir aos documentos da época, muito mais encontrará.
Era preciso? Justificava-se? É de crer que sim.
É claro que, segundo a clarividência de Mário Soares e de algum burro que por aí ande, nada do dito era austeridade.
Que bicho seria então?
Soares, que no seu tempo era a favor da austeridade, passou a ser contra por não ser da sua autoria nem da do “seu” FMI?
Se houvesse um santo protector dos aldrabões, dos burros e dos malucos, o IRRITADO pediria a sua ajuda para limpar a clarividência do geronte.
Há mais quem não tenha percebido: os partidos da esquerda. Desses não reza a história: são contra o sol e contra a chuva, contra os fogos e os bombeiros. Não merecem comentário, nem as suas opiniões têm a mais remota relação com a realidade.
Qual é então a realidade?
Simples.
O TC fez a malandrice. Tirou dois mil milhões ao orçamento.
O governo tinha que os ir buscar a algum lado. Arranjou uma catraca que talvez funcione.
É bom dar algum fôlego às empresas, a ver se começam a criar emprego.
É mau que as pessoas tenham que descontar mais.
É bom que a segurança social receba mais, porque já não aguenta a despesa.
É bom que se corte um subsídio em vez de dois, e que o que fica seja pago em duodécimos.
É mau que os pensionistas continuem sem os dois subsídios.
Isto, quanto ao que hoje ouvi.
Quanto ao que aí vem, que ainda não se sabe mas que é como já se soubesse, vai ser uma desgraça? Com certeza. Pode é ser uma desgraça maior ou uma desgraça menor.
A ver vamos no que vai dar a história dos escalões do IRS.
A ver vamos o que vai acontecer ao IMI, no que vão dar as reavaliações, etc.
Do que não há dúvida é de que a crise europeia e as trafulhices do Pinto de Sousa foram hecatombes que se abateram sobre nós em simultâneo, e da influência das quais não se sabe se nos livraremos ou quando nos livraremos.
O resto são soarices e patacoadas dos especialistas em omeletes sem ovos.
Ao contrário do que diz a malta do costume, quanto mais esbracejarmos mais nos afundamos.
7.9.12
António Borges de Carvalho