PERGUNTINHAS
Em patético estertor, uma ingente multidão vem ocupando as nossas leituras, visões e audições, com a condenação de seja o que for que toque na fímbria das vestes da RTP.
A coisa percebe-se da parte dos jerónimos e dos louças. Percebe-se também das bandas dos seguros, seus primos, pouco ortodoxos mas primos, misturados com outros sangues mas primos na mesma.
Já é mais difícil perceber esta tempestade opinativa dita a favor do “serviço público de televisão”, quando quem a sopra é gente da área dos portas paulos. Bem visto bem visto, dadas as diversas atitudes socializantes desta malta, se calhar até se percebe. Parece que também são primos, ainda que em part time e segundo as momentâneas conveniências da trupe.
Acresce a isto uma multidão polifacetada e desenfreada de intelectuais, opinadores, comentadores, professores, canalizadores, juristas, constitucionalistas, arquivistas e outros, que se multiplicam em declarações, manifestos, documentos e berrarias de vária ordem.
Esta tropa tem dois pontos de partida, qual deles mais sagrado:
a) o serviço público é indispensável e
b) o serviço público tem que ser prestado por uma empresa do Estado.
O que significa duas coisas:
c) que serviço público é o que a RTP faz e
d) que se a RTP não fosse do Estado não poderia prestar tal serviço.
Ora como a RTP faz o que fazem os outros, e mais mal feito, hemos de convir que
e) ou o que os outros fazem é serviço público, ou
f) a RTP não faz serviço público de nenhuma espécie.
É evidente que ninguém saberá ao certo o que é isso de serviço público. Há quem diga que a RTP2 presta serviço público, tipo o do falecido Saraiva, e muito bem, ou outras raríssimas coisas interessantes. Mas, as mais das vezes abusa de suporíferos como a Câmara Clara - ai, como a cultura pode ser chata quando tratada por chatos! -, misturados com meses de propaganda lésbica e filmes de descasca pessegueiro.
Se o serviço público é isso… mas não é... Ou é? Que será?
A ululante tropa quer um serviço público fértil em patacoadas de malatos & Cª, gotas a encher um oceano de desinteresse. É isto que tal tropa quer salvar? Mesmo que custe milhares de milhões? Mesmo que albergue três vezes mais “profissionais” que as outras empresas do ramo, para fazer o mesmo ou menos? Mesmo que continuemos a pagar ao Estado “o audiovisual” do Estado, arriscando-nos a ficar sem luz lá em casa se não o fizermos?
Os jerónimos, os louças e parte dos seguros (a familória de sangue mais puro), como já disse, têm desculpa.
Para eles, "dar ao povo" empresas, bancos e tudo o resto, quer dizer tirar tudo e mais alguma coisa ao povo, para dar ao Estado. Para eles, o Estado não está ao serviço do povo mas o povo ao serviço do Estado, havendo disso inegáveis provas. Se tomarem conta do Estado, ficam com tudo, como está larga e experimentalmente provado. É o que os move. Tudo o resto é paleio para entreter patego.
Os demais, o que querem, para além de morder nas canelas do governo? Querem que gastemos 300 milhões por ano com o Malato e o Rodrigues dos Santos? Querem que paguemos mais uns milhões via imposto na factura da energia?
Facto é que a tropa aumenta de número e de decibéis.
Prouvera que o governo fosse capaz de resistir e, já que não pode acabar com o “serviço público” por causa da Constituição, que pague uns serviços públicos à SIC e à TVI, as quais, para lá de qualquer dúvida, os prestarão melhor e mais barato. Aliás, as duas já se propuseram prestar tais serviços. De que está o governo à espera?
Ah, já agora, não se esqueçam de acabar com a contribuição “do audiovisual”. Se seguirem a opinião do IRRITADO, verão que deixam de precisar dela e prestarão melhor o serviço imposto pela desgraça de Constituição que nos garrota.
9.9.12
António Borges de Carvalho