A VERDADE É UMA CHATICE
Aqui há uns tempos, a nacional inteligestsia de esquerda embandeirou em arco com a vinda a Portugal de um tal Krugman. Parece que o fulano é um insgne professor de economia, que até ganhou um Nobel e que, como é óbvio, não pode deixar de ser de esquerda. Aliás, parece que tem dado largas provas disso.
Ora o senhor Krugman, para além das suas críticas à dona Ângela e de outras doutas considerações, veio dizer a Portugal esta coisa muito simples: ou baixam os salários ou estão feitos ao bife.
A nossa inteligentsia de esquerda, os nossos órgãos de informação e muitas opiniosas criaturas trataram de esquecer o senhor Krugman. Tinham enfiado um barrete dos diabos, uma vez que a sua função na vida é dizer o contrário do que disse o tão esperado guru. Queriam apoio e levaram com os pés. A ordem foi esquecer o homem. O Krugman, de um dia para o outro, deixou de existir em Portugal. E, no entanto, como diria o Galileu, continua a existir, a ser de esquerda, e a dizer verdades duras como murros no focinho.
Ora não há uma só entidade no mundo, para além do Louça, do Soares (o nosso principal especilista em baixas de salários) e do Jerónimo, que apresente receita que, no que diz respeito aos custos do trabalho, desminta o Krugman.
A história da TSU, pelas reacções que provocou, foi uma patada na poça. Levantaram-se tenores, barítonos e contraltos, cada um mais esganiçado. A plebe, nós, veio para a rua, indignada.
Ninguém está de acordo.
Hordas de patrões, empregados, académicos (até os há – onde chega o ridículo – que “sabem” que a coisa vai trazer mais 30 ou 60 mil desempregados), filósofos, padres, trataram de condenar acerbamente uma medida que, em boa verdade, ninguém sabe o que daria, a médio e longo prazo.
No PSD, mesnadas de invejosos, frustrados e negociantes da opinião (dona Manuela, Capucho e Marcelo, por exemplo), tratam de pôr as massas em delírio.
Do lado do PS, o oco aproveitou para mais umas frases irresponsáveis, o Soares todos os dias diz mais uma parvoíce, etc. Os socrélfios rejubilam. Coitados, eles que não tiveram culpa de nada, não é?
O Portas, sempre pronto a arranjar chatices, anda a preparar-se para, mais cedo ou mais tarde, cair nos braços do PS. Entrou em histeria.
Dos salões de Belém, o ocupante do Palácio do Rei deve ter-se rido a bandeiras despregadas: no PSD, après moi le déluge. Cavaco há só um! O Barroso fez o favor de dar à sola. O Santana foi corrido com a minha preciosa ajuda. Este, com mais um empurrãozinho... hi,hi.
Uma ou outra voz – vale a pena ouvir, por exemplo, Camilo Lourenço e Ferraz da Costa – percebeu as coisas de outra maneira. Mas são vozes no deserto.
Asneira ou não, a reforma da TSU seria uma maneira de seguir o conselho do Krugman e de tudo o que é gente neste mundo. Não se sabe se seria a melhor, a pior, ou qualqur coisa de intermédio. O que se sabe é que, de uma forma ou de outra, é fatal ter de chegar ao mesmo.
Andar a espalhar ilusões, ou a partir do oportunismo dos políticos, ou da ingenuidade das pessoas, ou de histórias da carochinha, é que não devia valer.
19.9.12
António Borges de Carvalho