ASNEIRAS
Há muitos anos, um dos clássicos eco-gurus da nossa praça dizia – e eu, jovem e ingénuo, concordava! – que, na Avenida da Liberdade, o trânsito automóvel e a construção de imóveis mais altos que os que lá estavam provocariam, por poluição e falta de sol, a morte de todas as árvores e a atrofia das plantas rasteiras num prazo inferior a 20 anos.
Passaram quase 50 anos. A circulação automóvel aumentou brutalmente, construiu-se inúmeros edifícios que, ainda que sem exageros, são bem mais altos que os anteriores. As árvores lá estão, viçosas ainda que votadas pela CML ao mais total abandono, e os jardins não estão mal, se exceptuarmos as pinturas paranóicas com que o senhor Costa tratou de desfear os bancos tradicionais.
A eco-demagogia opiniosa, porém, mantem-se ou está pior. A câmara erigiu como objectivbo fundamental pôr os lisboetas a andar de bicicleta. Na cidade das sete colinas! São parvos ou quê? O IRRITADO não é contra as bicicletas. Mas, numa cidade como a nossa, a circulação ciclista, para além de uma estupidez é um atentado à saúde pública. Por outro lado, a CML, depois de ter incentivado, e bem, a transformação da Avenida em centro de comércio de alta qualidade e preço, veio limitar a circulação mediante alterações idiotas, incómodas e caríssimas. Como a distinta clientela de tal comércio não anda de bicicleta nem de autocarro, o resultado vai ser bonito. As lojas vão entrar em colapso, e os cidadãos que delas não são clientes deixam de ter o gozo de ver as montras, com sonhos ou sem eles.
A circulação na Rotunda está pior, mas aceitável. Como os trutas que conceberam a asneira estão contentes, deixemo-los na sua felicidade. Mas na Avenida, que pessegada meu Deus! A hora de pouco movimento leva-se vinte minutos para subir dos Restauradores à Alexandre Herculano!
O IRRITADO, que há muito utiliza um Mercedes-Benz com motorista para ir à baixa – o autocarro da Carris – meteu-se no carro, à experiência. O resultado foi ter ficado a pensar que estes tipos da CML são, pelo menos, doidos. Uma faixa para subir a avenida! E, sem mais nem menos, passa a três! E os sinais que enganam as pessoas! Uma desgraça. Uma burrice.
E se a CML tivesse pegado nos 750.000 euros que ali enterrou e tivesse, por exemplo, mandado arranjar uns passeios e asfaltar uns buracos?
Pergunta estúpida. Tapar buracos e arranjar passeios não tem nada de ecológico. Partir pés e rebentar pneus está muito mais de acordo com a “Natureza”!
10.9.12
António Borges de Carvalho