AI, MENDES, MENDES
Em 5 de Maio, um jornal noticiou que não haveria qualquer imposto especial sobre a valorização dos terrenos que integram a área de influência do futuro (t’arrenego!) aeroporto da Ota.
Convenci-me de que a coisa iria dar uma enorme bronca, de que haveria uma legião de comentadores, de jornalistas, de economistas, de boas almas, etc., que iriam assestar as suas artilharias sobre o governo.
Esperei 10 dias. Hoje, sou levado a concluir que, ou sou mais estúpido do que julgava, ou há aqui qualquer coisa que não funciona.
Nos tempos do governo Cavaco, Joaquim Ferreira do Amaral travou, como é bem sabido, uma luta titânica, quase heróica, pela ponte Vasco da Gama. E, se a coisa acabou por passar, foi, entre outras razões, porque foi lançada uma espécie de imposto de mais valias, destinada a “evitar a especulação”, a moderar a “pressão do betão”, e a outras alarvidades tão do agrado dos empatas.
Agora fia mais fino. Os empatas de ontem são os p’ra-frentex/simplex/otex de hoje, não se lhes aplicando as exigências que a terceiros fizeram. É, para eles, evidente que, estando o PS no governo, não haverá especulação, nem betão, nem nenhum inconveniente do tipo advirá do processo, pelo menos nenhum inconveniente que possa justificar o tal imposto especial.
O que se aplica aos outros não se aplica a nós, se não nos convier. É esta, com provas dadas através da história, a filosofia do PS.
Não é, por conseguinte, de estranhar a omissão, vinda de quem vem. Também não é de estranhar a (não) atitude de comentadores, jornalistas, economistas, boas almas, etc. O que está a dar está a dar, e isto de levantar o rabinho do selim tem os seus inconvenientes.
De estranhar, sim, é a (não) atitude do PSD nesta, como noutras matérias. Entretido a dar tiros no pé, viciado na antropofagia, o dr. Mendes nem dá pelo que se passa à sua volta. Deve andar por aí entretido à procura de mais algum autarca do partido a quem dar um pontapé no rabo, ou de algum santo mártir que ponha a cabeça no cepo das eleições em Lisboa, cuja Câmara o dr. Mendes tudo fez para, generosamente, oferecer ao PS.
António Borges de Carvalho