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A grande viragem política que o jornal privado chamado Público encetou meses atrás com a tomada do poder por uma nova direcção tem vindo a conhecer interessantes desenvolvimentos. Começou, como é sabido, pela “dispensa” de colaboradores, entre eles a melhor ensaista política da nossa imprensa, Helena Matos. E foi fazendo o seu caminho por diversas vias, a ascenção do senhor Lof, as frustações políticas do inacreditável Pacheco, os editoriais, a saga dos telefonemas do Relvas, coisa esta tão nebulosa que acabaram por ter que despedir a sua criadora, etc.
Os resultados estão à vista. As vendas a descer, a publicidade também, e, finalmente, umas dezenas de trabalhadores para o olho da rua.
Como não podia deixar de ser. O amigo Belmiro não anda por aí para sustentar buracos.
Quem ler as últimas “reportagens” com um mínimo de atenção facilmente conclui que a pressão dos acontecimentos obrigou a ideologia dominante (vender, vender, vender) a tomar o freio nos dentes.
Os negócios do PM enquanto operador privado foram a primeira escolha. A partir de uma “boca” de dona Roseta – quem lhe der credibilidade que a coma por boa – construíu-se uma teia de putativas influências, destinada a demolir o governo. Quando digo putativas, estou a referir-me, não a “bocas”, mas ao que vem escrito nas entrelinhas e sobre os documentos da Ordem dos Arquitectos que, ou esvaziam as “acusações”, ou “despareceram”, ou onde “nada consta”, etc.
Agora (hoje) em altas parangonas, retoma-se a saga. Escutas telefónicas.
Uma primeira e nobre activiade para a nova PGR: investigar quem continua a borrifar no segredo de justiça.
O que dizem tais escutas? Nada de especial. Um empresário faz diligências para não perder um negócio. Coisa ilegítima? Parece que não? Corrupção? Nada consta. Tráfico? Népias. Processo? Nenhum. Investigação? Sim, mas sem ter nada a ver com o assunto. O próprio jornal, sangrando-se em saúde, o confessa, explícita e implicitamente.
O que resta então?
Resta que o “Público” está em crise e quer vender jornais seja lá como for. Resta que o elo mais fraco do governo (Relvas) continua a servir de bombo da festa, havendo de convir que há muito devia ter ido à vida, como o IRRITADO não se cansou de aconselhar, a ele e ao chefe dele.
Resta que os clientes que o “Público” conquistou com a saída do Silva, madeirense fala barato e esquerdalho, e com o consulado do moderado Fernandes, vai ficar sem jornal, se é que ainda o tem.
Resta que o “Público” tem os dias contados.
Espera-se que os habituais comentadores do IRRITADO não misturem estas coisas com (todas) as notícias de que, em tempos, foi objecto o senhor Pinto de Sousa. É que, para bom jornalismo, há que ter alguma coisa a que se agarrar...
15.10.12
António Borges de Carvalho