BIOGRAFIA NÃO AUTORIZADA
Diz-se que o criminoso volta sempre ao local do crime. Sem que seja um criminoso em termos penais, o golpista político de nome Jorge Sampaio está de regresso ao teatro dos seus inúmeros malefícios.
Chefe incontestado e triunfante das guerras académicas de sessenta, Sampaio conseguiu, à altura, capitalizar a seu favor as asneiras da ditadura. Ao ponto de - ele ou os estudantes - ter posto do seu lado o Reitor da época, Marcello Caetano, que, e muito bem, se demitiu em solidariedade com o justo movimento estudantil.
Veio a III República e o grande democrata Sampaio foi fundador de um grupo extremista da esquerda mais ou menos caviar, que conheceu diversas designaçãoes, IS, GIS, MES, se de todas há memória. O grupo opunha-se ferozmente à realização de eleições, não porque, como defendia a II República, “o povo não estivesse preparado”, mas porque era preciso deixar desenvolver e consolidar o “processo revolucionário”, que ia assolando as ruas e destruindo as consciências. Depois logo se via quando e como haveria eleições. Ao contrário do que se possa pensar, não se tratava, como tantos outros, de um rapazola de 18 ou 20 anos, extasiado com maoismos ou patranhas do género. Não tem essa desculpa. Era um advogado experimentado, a caminho dos 40, com banca em zona nobre e clientes com fartura. Entre eles, alguns democratas perseguidos pelo regime e escolhidos a dedo pelo ilustre causídico. Não era qualquer um que tinha a honra do patrocínio de Sampaio, por muito que sofresse com a PIDE e afins. Era preciso “ter nome”.
Passada a fase mais revolucionária, em 79 ou 80, Sampaio descobre a democracia e entra para o PS, onde vem a, informalmente ou não tanto, assumir a direcção da esquerda do partido, corporizada à altura pelo célebre “secretariado”, coisa que, durante anos, se dedicou a fazer a vida negra a Mário Soares, que tinha “metido o socialismo na gaveta”.
Fugaz secretário de estado, líder parlamentar sem história que se lembre, após o redondo falhanço de Vitor Constâncio viu-se alcandorado (89/92) a secretário geral do partido, onde durou o que durou, mas pouco dele ficou. O seu sucessor, antigo parceiro no “secretariado” – Guterres – elevou-o a Presidente da Câmara de Lisboa, com os votos do PC. Uma coligação que o próprio tem rotulado de “histórica”, mas caracterizada pela feroz manutenção da burocracia camarária, pelas decisões “emocionais” e pela criação do que foi um dos monstros de inspiração soviética da III República: a primitiva EMEL. Viu a sua obra muito justamente classificada pelos taxistas de Lisboa, que chamavam “sampaios” aos buracos nas ruas.
Aproveitou a fuga irresponsável de Cavaco Silva e a ascensão de Guterres para se candidatar com êxito à Presidência da República, vindo a ser reeleito, como todos os outros. Aproveitou o “trono” para interpretar a Constituição à sua maneira, armando-se, por exemplo, em general das tropas, a fim de fazer os dias negros ao PM, isto infirmando os preceitos constitucionais na matéria, tal como tinham sido concebidos e defendidos pelo seu próprio partido. Mais tarde, sempre na mesma sanha esquerdóide, cavalgou a onda que os ódios de Cavaco levantaram contra o governo PSD/CDS e, reorganizada a esquerda com líderes frescos no PS e no PC, dissolveu o Parlamento, num golpe de Estado constitucional e partidário que nada, na história constitucional do próprio PS, justificaria. Assim reposto o seu partido no poder na ilustre pessoa do senhor Pinto de Sousa, a missão estava cumprida.
Foi-se embora satisfeito com ela, e é hoje luxuoso hóspede de reais instalações, no remanso tranquilo de um parque ao qual o cidadão comum não tem acesso.
Na disponibilidade, tem sabido aproveitar o seu glorioso passado para trabalhar para a ONU em missões de grande impacto, como a “luta contra a tuberculose” e a “aliança das civilizações”, coisas que ninguém dirá que avançaram fosse o que fosse sob a sua batuta, bem pelo contrário, mas que muito lhe enriquecem o currículo. Note-se também que, internamente, não deixou de assegurar a principescamente paga posição de chefe da fundação de Guimarães.
Terminadas, ao que parece, as tarefas internacionais, o nosso homem volta à ribalta política. É preciso dar cabo deste governo e pôr lá o PS outra vez. Assim, Sampaio, tanto tempo afastado destas lides, reaparece em tudo o que é sítio, consciente desta sua nova e nobre missão, na qual, apesar de tudo, honra lhe seja, consegue ficar a larga distância dos dislates de Mário Soares, das tiradas “intelectuais” de Pacheco Pereira e das ridículas histerias de Dona Manuela.
De resto, joga golfe.
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Este post é um humilde contributo do IRRITADO para a biografia do impoluto cidadão, ora tão propagandeada ao mais alto nível da nossa inteligentsia e no mais largo espectro da nossa “informação”. Não servirá para nada, como é evidente, mas dá um certo gosto.
27.10.12
António Borges de Carvalho