PRESO POR TER CÃO...
As vozes da maralha não se cansam de atribuir ao governo o pecaminoso propósito de “ir além da troica”. As mesmas vozes debitam as maiores críticas aos falhanços de tal política. A verdade que daqui se extrai só pode ser uma: o programa da troica não chegava e, mesmo “acrescentado” pelo governo, não chegou.
Esta asserção, como é evidente, é falsa. É que parte de premissa errada: o governo é mais troiquista que a troica. Não é. Numas coisas terá feito mais, noutras menos. Mas, de um modo geral, está na linha do compromisso. Os resultados que, pela negativa, caracterizam a desgraçada etapa em que estamos, devem-se, de certeza, aos desmandos de seis anos de loucura, à crise internacional e, talvez, à fraca concepção do programa por parte de quem o propôs, de quem o negociou, aceitou e subscreveu. Outros houve que, por não ter outra opção, o aceitaram e subscreveram sem o ter negociado ou sem ter visto validadas as suas propostas, por boas ou por más que fossem.
Às vezes não é mau pôr as coisas no seu sítio. O problema é que coisas no sítio não fazem a especialidade da maralha. O governo é mau porque propõe e anuncia coisas horríveis. Mas ainda é pior quando desiste delas.
Tem-se visto a polémica que causaram os anúncios do ministro dito da solidariedade. O homem é horrível porque anunciou, mas ainda é pior por ter “desanunciado”. A maralha não perdoa que o homem lhe tenha retirado mais um motivo de barulheira. Então, se desistiu, já não podemos trucidá-lo? Que chatice! Se ele tivesse tirado o dinheiro aos velhinhos não era muito melhor?
Nesta triste situação, a única saída da maralha é continuar a criticar o mal que já não há, como se ainda houvesse. Inteligente, não é?
Posto isto, diga-se que o tal ministro já fez o suficiente para viajar até ao banco dos suplentes. Mas isso é outra questão.
28.10.12
António Borges de Carvalho