MALES DO MUNDO
Porque foi Obama eleito há quatro anos? Porque: a) é mulato, b) tem o dom da palavra, c) fez promessas aos pontapés.
Agora, depois quatro anos sem cumprir, nem aquelas que estavam na sua exclusiva mão, como a história de Guantanamo,(diz que a culpa é do congresso) ou como a retirada do Iraque, nem as outras, como a descida do défice, a criação de emprego, a celebérrima reforma do health care e tantas outras, volta a apresentar-se aos eleitores guardando como trunfos, já não velhas ou novas promessas, mas explorando à saciedade as alíneas a) e b). De resto, a sua obra está à vista. No exterior, não resolveu um único problema. Debate-se com os que herdou e arranjou mais uns. Internamente, conseguiu malcontentar os que dele tudo esperavam e pouco ou nada obtiveram. Resta, pois, a verve, a cor e a mulher, esta com jeito para a popularidade e para dizer umas coisas à multidão.
Tem outro importante trunfo. O adversário que, além de pertencer a uma seita religiosa que causa as maiores dúvidas, se apoia no que há de ideologicamente mais retrógrado, o que lhe torna virtualmente impossível conquistar votos no campo do presidente. Internacionalmente mais “agessivo” (parole parole) , internamente mais conservador (de quê, se até aceita certas “reformas” do adversário, nem que seja para americano ver?).
Desgraçadamente para ele, o politicamente correcto, lá como cá, tem uma força tremenda. Bush foi mau por causa do Katrina (cujos vestígios já são raros), Obama é um herói por causa do Sandy. Como cá, todos os dias, com tudo. Citemos um exemplo comezinho, triste se não fosse ridículo: em São Tomé, em visita formal, Soares pôs-se em fato de banho e, perante os engravatados dignitários locais, foi dar uma mergulhaça nas salsas e tépidas ondas: para os media, um herói. Mais tarde, em férias, Cavaco subiu a um coqueiro: para os mesmos, uma atitude patética, risível e indigna. Se o governo socialista corta verbas no Estado “social”, coitado, não havia outra solução. Se o governo não é de esquerda, então tais cortes são um crime de lesa-pátria, uma coisa “salazarenta” até, pelo menos na opinião de dos maiores alarves a que a nossa democracia dá guarida. E assim por diante.
Romney é vítima da mesma “correcção”. Não se pense, porém – as sondagens são claras – que os americanos reagem como os “progressistas” europeus.
Obama, entre nós, seria um reaccionário dos piores. O que não impede a nossa pobre intelligentsia de o considerar um revolucionário e de lhe tecer as maiores loas. Saloios!
O problema da América é o mesmo que o nosso. Mais cedo ou mais tarde, o défice, a dívida, a austeridade, caem-lhe em cima. E se o dólar entrar em colapso, o que não é tão impossível como possa parecer? Hecatombe americana, hecatombe universal.
Trunfo será a inesgotável capacidade de trabalho dos americanos, a resiliência das suas estruturas sociais, a espantosa vitalidade da sua sociedade civil. Mas, por muitos anos e maus, as coisas vão ser difícies.
Com Obama ou com Romney.
Venha o diabo e escolha.
5.11.12
António Borges de Carvalho