ESBORRACHE-SE O CRATO
É conhecido de muita gente o sistema alemão do ensino secundário.
Segundo a capacidade (não o estrato social, não a economia ou a cultura familiar), os alunos são avaliados e, por critérios objectivos, encaminhados para diversos tipos de aprendizagem. O objectivo é o de conseguir que a conclusão do secundário seja, para uns, o acesso livre às universidades e, para outros, a competência para o imediato exercício de uma actividade profissional, sem prejuízo de, a termo, poder subir na escala lectiva. Os alemães conseguem, assim, evitar a impreparação de base para o trabalho, por defeito ou por excesso. Isto implica, por exemplo, a formação em empresas, quer para os que não seguem estudos quer para os demais, isto é, o contacto com a vida real, antes de nela entrar como profissionais remunerados.
É indiscutível que o sistema funciona em termos de emprego, de capacidade tecnológica, de progresso científico e de paz social. Terá, como todos os sistemas, os seus casos de injustiça, mas a injustiça não é a base ou a filosofia do sistema.
Vem isto a propósito do recente acordo celebrado com os alemães pelo ministro Crato.
Crato deve estar consciente da profunda inadequação e injustiça do sistema que o igualitarismo constitucional gerou, fundado na doutrina das licenciaturas a esmo, alternadas com a impreparação geral para profissões em que os estudos universitários não são a primeira das condições, ou nem sequer são condição.
Quando se diz que Portugal tem hoje uma nova geração mais educada que em qualquer outro momento histórico, diz-se a verdade. Mas trata-se de uma verdade de Pirro, isto é, a educação recebida não corresponde a nada de verdadeiramente útil à economia, portanto à sociedade. À crise do desemprego, para além de outros males, junta-se a inadequação da nova geração ao mundo do trabalho, ou ao que é preciso no mundo do trabalho dos nossos dias.
Crato procura, pois, uma solução diferente da actual. Vai onde ela funciona, com o objectovo de aprender e de vir a experimentar.
Qual mal há nisto? Muito, muito mal. É o que dizem os “especialistas”, desde já cheios de “preocupações” e erguidos em coro contra a ideia. “Orientação compulsiva”, gemem eles; a CNE (?) está contra, etc. Além disso, imagine-se, a via profissional já é possível para quem tem duas “retenções” (em português diz-se chumbos) no mesmo ciclo ou três em ciclos diferentes. Os “especialistas” acham que assim é que está bem: quem for estúpido, mandrião, calaceiro cábula, então que seja electricista, metalúrgico, informático, etc. Nada a ver com aptidões. Basta a preguiça e o insucesso.
É gente desta que tem direito à opinião e aos títulos dos jornais. É por estas e por outras altas manifestações de inteligência que temos uma juventude totalmente impreparada para a vida, cheia de canudos, de ignorância e de incapaciades teóricas e práticas,
De qualquer maneira – é esta a verdade a que vamos assistir - ai do Crato se quiser dar uma volta ao que está. Se não se põe a pau, os “especialistas” esborracham-no.
7.11.12
António Borges de Carvalho