OBAMA GANHOU
Obama ganhou as eleições. Por uma unha negra, mas ganhou. Ficou demonstrado que a América está partida ao meio, pelo menos em matéria moral. Mas também em termos políticos e sociais.
O dinamismo da economia americana, bem como os seus mecanismos de controlo, que, tendo falhado imperdoavelmente nalguns casos, continuam a ser muito mais fiáveis e eficazes que os europeus, são dignos de alguma confiança. O mesmo no que diz respeito à Justiça. Com Obama ou com o outro.
No plano externo, as razões de inquietação são muitas e graves. A doutrina oficial vai continuar a ser a do entrenchement, palavrão muito do gosto do Presidente e seus áulicos. Trench quer dizer trincheira, como é do conhecimento geral. Por muito que se adoce esta pastilha com traduções caritativas e melífluas, dúvidas não restam de que a administração Obama continuará “entrincheirada”.
Primeia consequência, já assaz sentida: o evidente menosprezo pelas alianças a Ocidente, a substituição do Atlântico pelo Pacífico, a entrega desta Europa em declínio à sua sorte. É verdade que há já muitas décadas que os EUA, com democratas ou republicanos no poder, vem insistindo com a Europa para não descurar a sua defesa militar, mais para evitar a guerra que para a tornar possível. Mas a Europa, mergulhada nos custos do “estado social”, vem sistematicamente menospresando as suas capacidades militares, Com a tímida excepção do Reino Unido, a Europa da desfesa é pouco meis que um tigre de papel. A prová-lo, não há intervenção que a Europa faça ou queira fazer para a qual não seja indispensável o apoio militar dos EUA. Assim foi na ex-Jugoslávia, na a qual a contra gosto eles se deixaram envolver, assim é noutros teatros por esse mundo fora. Os Eua estão longe de “apreciar” a Aliança Atlântica, hoje mantida quase como uma “infelizmência”.
No comércio, o mesmo se passa. Obama está muito mais virado para o concerto de posições com os países emergentes do que com a “solidariedade” com a Europa. É certo que, nestes teatros, pouco ou nada tem conseguido, mas a prioridae é evidente.
O médio oriente, ainda que com cuidados especiais com a Turquia, está na mesma, entretendo-se Obama com a crendice na excelência da primavera árabe, coisa que toda a gente já percebeu de primavera ter pouco. No fundo, é a política de Bush com outra cara: “exportar” a democracia, mesmo que o poder venha a cair na mão de extremistas.
O Irão continua calmamente a progredir no fabrico da bomba e, para além de uns embargos aqui e acolá, não se viu ainda, da parte de Obama, qualquer atitude digna desse nome.
O Conselho de Segurança da ONU, cuja necessária reforma tão propagendeada tem sido, continua exactamente na mesma.
Dona Hilária vai esperneando aqui e ali, mas nada de novo “descobriu”.
Até as relações com Israel andam pelas ruas da amargura.
Não se trata, da parte de quem escreve estas linhas, de exigir intervenções militares nos locais mais instáveis. Trata-se de ter uma diplomacia mais criteriosa e menos “entrincheirada”.
O que à Europa diz respeito, diz-se em duas palavras: cada vez mais fraca. E o “chapéu de chuva” norte americano muito bem enroladinho.
Romney seria melhor? Ninguém o saberá dizer. No que nos diz respeito, o mais provável é que ficasse tudo na mesma.
8.11.12
António Borges de Carvalho