O QUE SE SABE
O IRRITADO é, rigorosamente (como diria o Crespo), incompetente em matéria económica, seja ela micro ou macro.
Assim, vistas as coisas por um ignorante, dá ideia que duas linhas de pensamento de confrontam em Portugal. Uma, acha que a austeridade deve ser violenta, para que dure menos, outra que deve ser leve, e mais longa. Como nos tratamentos para emagrecer. Uns acham que se deve enveredar por uma dieta de choque e umas drogas, até estabilizar e poder recuperar um bocadinho. Outros defendem que, step by step, se deve ir alterando os hábitos alimentares, até obter resultados. Como diria a magra Drª Jonet, passar já do bife com batatas fritas para o chispe com feijão branco ou, nas sábias palavras da gorda Drª Isabel do Carmo, continuar com umas bifalhadas, ainda que menos vezes.
Hemos de convir que,com razão ou sem ela, defender o alívio imediato da austeridade, bem como a intocabilidade de todas as contribuições do Estado para a felicidade do povo, é fácil, compensa, tem efeitos nas sondagens. À la limite dará resultado? Ninguém sabe.
Insistir no contrário é doloroso para quem insiste e para quem é insistido. Não é fácil, não compensa, vê-se nas sondagens. À la limite dará resultado? Ninguém sabe.
Mas há coisas que se sabe.
Antes de mais, sabe-se que os resultados não dependem, nem só nem principalmente, de quem nos governa.
Sabe-se que o tão desejado aumento das exportações dificilmente se compagina com a crise europeia, ainda menos com greves de privilegiados como os estivadores, gente para quem a Pátria se resume ao Cristianao Ronaldo, não merecendo outra consideração.
Sabe-se que isso de renegociar condições com os credores não é coisa que se possa fazer às claras. Ainda menos se pode anunciar que se está a pressionar neste ou naquele sentido. É um trabalho de sapa, que só se revela quando conseguido, sob pena de dar cabo do negócio. Foi o que aconteceu com aquele ano a mais que, para bem ou para mal, nos foi “concedido”.
Sabe-se que o coro universal sobre a intocabilidade do Estado Social – ainda por cima confundindo este com a democracia – é coisa de oposição pela oposição, o pior da democracia e do sistema partidário.
Sabe-se que a recusa sistemática do diálogo pode ajudar as sondagens, mas não ajuda o país.
Sabe-se que as privatizações são fundamentais e urgentes, menos por razões ideológicas que por motivos pragmáticos e morais. É que, enquanto o Estado for proprietário da economia, julga em causa própria, o que é, pelo menos, ilegítimo. Enquanto o Estado, em vez de “gastar” em fomento e “agitação” económica, andar a sustentar elefantes brancos – transportes, BPN’s, RTP’s e tanta outra cangalhada – o cinto dos cidadãos vai deixando de ter furos que cheguem, não por causa da dívida e do défice mas por razões internas de raiz ideológica e constitucional.
Sabe-se que isso de “reforma do Estado” é, felizmente, inevitável. E também se sabe que quem sabe disto tão bem ou melhor que toda a gente, se nega seja a que reforma for, a começar pela da hidra de sete cabeças que se meteu na Constituição e nos rói os ossos.
Muita coisa se sabe. O problema é que também se sabe que os mais próximos e mais violentamente responsáveis pela culpas internas da nossa desgraça, não só, a tal respeito, assobiam para o ar, como se entretêm a destruir por destruir, sem escrúpulos nem qualquer sombra de decência política.
Sabe-se que esta estratégia tem resultado. Pelo menos nas sondagens. Coisa que, afinal, parece ser o que mais importa.
18.11.12
António Borges de Carvalho